26 agosto 2024

Da matemática e da passagem do tempo

Há dias, num repasto com amigos, alguém elaborava uma teoria matemática sobre a sensação da passagem do tempo em jovens e velhos: quando se tem 8 anos, 1 ano representa 1/8 da vida, ou seja, 12,5%; quando se tem 80 anos, 1 ano representa 1/80 da vida, ou seja, 1,25%. É por isso, dizia o autor da teoria, que os velhos têm a sensação de que o tempo passa muito depressa, enquanto os jovens têm a sensação inversa. Fica a sensação, porque o tempo passa igual para todas as idades. Acho a teoria curiosa e desafiante, embora pouco credível ou sustentável. 

Tudo se resume, diria eu, a uma diferente percepção da vida: uma criança de 8 anos - ou mesmo um jovem de 18 - não tem uma noção tão apurada da vida como tem um velho de 80. Por isso a ideia de uma perda irreversível de alguém pode afectar alguém mais idoso, porque saberá o impacto da expressão nunca mais. Um idoso de 80 anos, confrontado com uma perda significativa na sua vida, olhará para a frente com uma ideia de tristeza; mesmo que, estatisticamente, lhe sobrem menos anos até à morte, tem uma noção do impacto da solidão que um jovem de 18 anos não tem. E tem, também a certeza de que o combate da solidão é, com uma idade mais avançada, um combate difícil. 

A teoria da matemática funciona numa proporção inversa: quanto menos representa um ano na nossa vida, mais ideia se tem da rapidez com que passa. Nessa linha de pensamento, e benefício de tese, podemos desenvolver uma teoria semelhante, mas de sentido contrário: para uma criança de 8 anos, a esperança de vida são mais 74; para um velho de 80 anos, a esperança de vida são mais 2. No entanto, confrontado com uma perda, o tempo para um idoso demora muito mais tempo a passar do que para uma criança de 8, ou mesmo um jovem de 18. A matemática não tem qualquer influência. O que conta é a experiência de vida, a nitidez com que se olha para as coisas. Para um jovem de 18 a linha do horizonte está muito longe; para um idoso, a linha está muito mais próxima ou muito mais longe, tudo depende da alegria ou tristeza com que se a linha é olhada.

JdB  

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