22 julho 2008


Eram cinco da manhã quando acordei com a ronca do nevoeiro.
(Pelo menos pareceu-me que era...)
Durante algum tempo deixei-me embalar por aquele ruído regular e fundo, que alerta os navios para os perigos da pouca visibilidade.
(Conheço quem abomine a ronca porque lhe aumenta as insónias e lhe acrescenta as neuras; eu, pelo contrário, gosto - lembra-me o nevoeiro, o Outono, estação que dizem ser propícia a neurastenias e depressões.)
A ronca continuou, indiferente aos gostos de cada um, e eu sonhei-me num barco
(ou seria sonhei-me um barco?)
atento aos perigos que espreitavam, vigilante da direcção e intensidade do aviso. À minha frente, as mãos firmes na roda do leme, um piloto experimentado dizia-me para onde ir, sem medo e sem dúvida.
- O rumo está traçado, não há que hesitar. É por aqui que temos de ir!
Mas eu vacilava. Afinal havia a ronca, naquela sua regularidade de relógio afinado, como que a dizer-me que sim, que havia esse caminho, mas que espreitavam perigos que poriam em risco a segurança da embarcação.
O piloto e o conhecimento, a ronca e o sinal. Sonhei-me num barco
(ou seria sonhei-me um barco?)
sem saber exactamente que rumo tomar, que opção escolher, que voz ouvir.
Quando, no meu sonho, tomei a decisão, a ronca continuava, enfurecendo alguns, embalando outros - mas alertando sempre para os perigos da pouca visibilidade.

Adeus, até ao meu regresso.




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