02 outubro 2009

quando te falo de amor

[ao senhor charles bukowski]

hoje ao almoço, atravessei o bairro
naquele passo de sempre.
quero dizer: o bairro que atravessei
é uma metáfora. por isso dizem: triste pândego,
usa a linguagem a seu jeito,
é um lesa-linguística!, uma lesma do pântano!
pobres literais, pobres literatos.
não sabeis vós por acaso como se escreve
o raio de um poema?
não sabeis vós como é que
um homem atravessa o bairro
e ainda assim sobrevive?
pois eu digo-vos:
esqueçam o terço, a arte sacra,
esqueçam o basketball e a soap opera.
misturem, e sejam generosos,
meia amarguinha portuguesa
com toda a vossa amargura.
puxem-lhe um fósforo - bum!!
depois metam conversa com todas as miúdas.
eu disse: todas. essa também.
façam a estatística trabalhar para vós.
aproveitem todas as manhãs,
tardes,
noites,
perdidos na cama delas.
quando acabar, comecem de novo.
e, de súbito, tudo terá passado.
sereis apenas memória largada ao vento,
sugestão num rodapé sem brilho,
um nome longínquo.

esta manhã, ao atravessar o bairro,
pensei em ti com toda a força que não tinha
e, o diabo me leve, se não foi, se não foste,
a melhor coisa que não tive em anos.

gi

2 comentários:

Anónimo disse...

publique, gi ... !!! pcp

ZdT disse...

Adoro isto =)

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