11 outubro 2009

Milagres

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.

Tal como referi em dois posts publicados esta semana, participei numa reunião mundial de vários dias onde se falou - do ponto de vista dos profissionais de saúde e do ponto de vista dos pais - de oncologia pediátrica.

5ªfeira de manhã, à margem do programa delineado, uma islandesa ainda nova propôs-nos uma apresentação sobre um caso que lhe tocava de perto. Não foram mais, seguramente, de cinco minutos: 47 slides, acompanhados apenas de música, sobre a história de um dos seus filhos a quem foi diagnosticada uma leucemia quando tinha nove meses. Poupo quem me lê aos pormenores dos tratamentos, dos revezes, dos avanços. Quando chegou ao fim havia muitos lenços molhados, muitos olhos embaciados, muitos narizes a fungar. Eu era um deles.

Em muitos crentes, um caso destes abate a Fé mais sólida. Questionamo-nos sobre a justiça de Deus que permite o sofrimento de inocentes, duvidamos da bondade de Deus que não poupa a dor de bebés. Não me arrogando o privilégio do esclarecimento, resta-me sorte de acreditar, com toda a minha força, que Deus não é senão amor, e que não está por detrás de doenças nem de curas. A minha opinião sobre os milagres talvez seja pouco ortodoxa, prefirindo pensar que, na generalidade dos casos, muito do que hoje é inexplicável se explicará.

Há alguns anos, no nosso livro Deus pregou-me uma partida, a Rita Jonet e eu escrevíamos:

Os milagres existem, Inês? E como os caracterizamos? Um dicionário diria que milagre é um acontecimento contrário às leis estabelecidas da natureza e atribuído a uma causa sobrenatural. Mas diz também que é um acontecimento que espanta (e a origem latina da palavra vem desta expressão) ou maravilha. A vitória do Homem sobre uma doença que parece incurável é um milagre? A capacidade que nós temos de mudar a nossa vida e de a encararmos de outra forma também é? A predisposição que passamos a ter para ajudar os outros ou a consciência que adquirimos de que a nossa felicidade tem de ser em função do próximo é um acontecimento que maravilha?

Deus não é senão amor. Foi esta certeza, ganha tantas e tantas vezes da maneira mais sofrida, que muitos Pais crentes seguiram em frente na sua luta e na sua esperança. Conheci, esta semana, Pais de crianças que morreram, que sobreviveram, que passam tempos muito difíceis. Todos eles, com ou sem fé, são beneficiários de um milagre - acreditar que nem tudo se esgota no nosso desgosto.

JdB


6 comentários:

arit netoj disse...

Querido João,
Obrigada por me relembrar essa ideia em que tanto acredito.
Só faz sentido um "Deus que não é senão Amor".
Beijinhos sempre presentes

JdB disse...

Querida Rita. Obrigado por me ter apresentado o livro onde li esta frase e vi este conceito tão bem explicado. Deus pode pregar-nos partidas, mas não é senão amor.
Um beijinho

Anónimo disse...

Adoro a definição de que Deus é SÓ Amor! Gosto de repetir esta frase para mim. Como gosto de uma outra, talvez apropriada por ser o mês dela, de Santa Teresinha do Menino Jesus: On n'a jamais trop de confiance dans le bon Dieu si puissant et si misericordieux. É tão forte na sua doçura, na sua simplicidade. Obrigada JdB. pcp

JdB disse...

Obrigado pela visita. pcp. A frase de Sta. Teresinha também é bonita. E boas são todas aquelas que reforçam a nossa Fé, nos ajudam a seguir em frente não obstante as curvas do caminho.

cris disse...

JdB,

As curvas do caminho, ajudam-nos a crescer.
A dificuldade aguça o engenho.
Há pessoas que são escolhidas pelo DEUS do AMOR, tanto para partirem, como para "acordar" os que ficam.
João já pensou que se não lhe tivesse acontecido o que vos aconteceu (família), o Sr. não teria "Acordado" e hoje não teriamos talvez uma ACREDITAR.
permita-me e desculpe-me o Sr, e sua Família, perderam um MEMBRO PRECIOSO, mas ganharam mais Fé e deram a ganhar mais FÉ, Força e Coragem, a muitos que passaram a ser da V. Família.

Parabéns e continue este caminho NOBRE

JdB disse...

Cris: obrigado pelo regresso aos comentários. Por mais que me envaidecesse, o facto é que a Acreditar existia antes de mim e continuará depois. Eu limito-me a segurar um logótipo que alguem me pediu para estimar e que passarei a quem vier a seguir a mim. Quanto ao resto do seu comentário, talvez tenha razão. Talvez se chame encontrar um sentido para as "coisas".

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