01 fevereiro 2010

Moleskine


Blogue. Para além de dois ou três textos dispersos, talvez, por alturas do Advento, não me lembro de ter escrito nada desde o dia 4 de Novembro. Fruto de uma vida profissional que tem as suas desvantagens, sucumbi aos exageros diários do teclado, e deixei o Adeus... (muito bem) entregue aos bloguistas residentes. É altura de (tentar) regressar, para não perder a mão da escrita.

Filme. Fui ver o Nas Núvens. Não sendo um filme extraordinário, gostei. Para além de outros aspectos, que serão food for thoughts (nomeadamente a fuga permanente do Clooney a uma casa e a uma relação) lembrei-me do meu próprio dia 16 de Abril de 2006. O Director-geral da empresa onde trabalhava há 20 anos sentou-se à minha frente com uma primeira frase (esperada e inesquecível): Olha João, o teu posto de trabalho acaba no fim do ano. Deram-me oito meses para me reorientar, ao contrário daqueles desgraçados que tiveram de encaixotar os agrafes e os calendários temáticos no próprio dia. No conforto do cinema e à distância de quatro anos olhei para aqueles (des)empregados destroçados e suspirei queirosianamente: eu conheço a situação. É medonha.

Casamentos
. Ceei esta semana com um grupo onde estavam amigos e gente conhecida no momento. Desta última categoria, um senhor educado e "casado" (vejam como simulo possidoniamente as aspas agitando os dedos à palavra casado), pouco além dos 60, que afirmou ter cadastradas (sic) 104 mulheres (a caminho das 105, referiu com ar guloso) com quem tinha tido relações íntimas. Era tarde e o meu bioritmo atirava-me para o leito onde a morte é natural . Assaltaram-me dois pensamentos fugidios: o de que um cavalheiro não se gaba das suas conquistas (um homem pode, mas um cavalheiro não), e de que há, seguramente, gente que merecia um enfeite fora da época exclusivamente natalícia. Havia outros pensamentos possíveis e desejáveis, mas eram três da manhã e o meu cérebro já tinha fechado. Felizmente.

Efemérides. Para além de lembranças pessoais que cada um de nós possa ter, passam hoje 102 anos sobre o regicídio. O editor e dono deste estabelecimento é notoriamente católico e discretamente (embora convictamente) monárquico. Num país que ainda dá muita importância aos nomes (repare-se que é raro o político actual que só tem um apelido) gosto de lembrar que a defesa pública mais consistente do ideal monárquico foi feita por alguém sem título nobiliárquico, sem consoantes dobradas e sem grafias medievais. Fait-divers, porque hoje, 1 de Fevereiro, é dia, repito, de lembrar as mortes do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe. Na época das siglas, RIP dá jeito...

Livro da semana
. Pudor e Dignidade, de Dag Solstad (Ed. Ahab), oferta personalizada de um amigo. Da badana: Thomas Mann não se teria interessado pela minha alma, ou pela escuridão da minha alma, e por que raio havia de se interessar? Mas imagino que teria obtido um certo prazer em descrever as minhas deambulações pela sala esta noite [...], onde, como já se viu, não faço outra coisa a não ser andar de um lado para o outro, atormentado pela minha condição de ser socialmente consciente que já não tem nada a dizer, pensou Elias Rukla.

JdB

5 comentários:

Anónimo disse...

Que bom tê-lo de volta! Já me diverti com o que escreveu esta manhã ... não perca a mão, faz-nos muito falta ... pcp

Anónimo disse...

Nos anos 30 havia um fado que dizia assim; e nunca fazer alarde da mulher com quem andou. SdB(l)

Luísa A. disse...

João:
a) Blogue: notámos (e sentimos) a ausência;
b) Filme: não o vi ainda. Mas também já passei por essa situação. Felizmente, foi num tempo em que o futuro ainda não metia o medo que mete hoje; num tempo em que a segurança do emprego (ou a segurança, apenas) ainda não aparecia no primeiro lugar do ranking de prioridades de um homem adulto;
c) Casamentos: esse senhor ainda está a anos de luz daquele «artista/herói» que contabiliza mais de 12.000 sucessos no seu palmarés sentimental. Não vejo de que possa gabar-se, portanto… ;-D
d) Efemérides: não sou monárquica, João. Mas reconheço alguma razão a Voltaire quando defendia a monarquia com o argumento de que «preferia servir um leão que tivesse nascido mais forte do que ele, a ser devorado por cem ratos da sua espécie». Infelizmente, desde há quase dois séculos (e já no período monárquico) que são os ratos que dominam (incluindo eventuais leões).
e) Livro da semana: não conheço, mas vou tomar nota. O nome agrada-me. :-)

JdB disse...

pcp, SdB, Luísa: obrigado pela visita e pelo comentário deixado. Gosto muito de estar de volta sem que seja pragmático quanto aquilo que escrevo. Talvez um dia retome a Lanterna Vermelha ou os personagens do meu bairro. Sei lá...

fugidia disse...

E eu, que sem ler ainda os comentários, já tinha pensado comentar como a Luísa fez, mantenho esse propósito, tentando ser (mais) sintética:

1. Blog: que saudades!
2. Filme: tb gostei :-)
3. Casamentos: "pensamentos fugidios"?!, como os adivinhou? (risos)
4. Efemérides: passo ;-)
5. Livro da semana: o meu é o da ñova acção de impugnação do despedimento... :-(

Gosto de o ler, de novo, João :-)

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