08 novembro 2010

Vai um gin do Peter's?

Que tal uma viagem virtual até Xangai, a aterrar na Expo 2010? A acumulação de pavilhões de volumetrias arrojadíssimas, desafiando a força da gravidade, são um convite irresistível a tentarmos lá chegar pelos meios ao nosso alcance…

http://static.publico.clix.pt/docs/mundo/expoxangai/

O mega-tema em foco, entre Maio e 31 de Outubro, foi "Better City, Better Life" (Melhor Cidade, Melhor Qualidade). Com um recorde de participantes, a exposição reuniu 192 países e 50 organizações internacionais. Estendia-se, estrategicamente, ao longo do Rio Huangpu, ocupando uma área de 528 hectares (dez vezes superior à da Expo’98). Depois dos Jogos Olímpicos de 2008, a China voltou a ser palco de um mega acontecimento internacional, onde eram esperados 70 milhões de visitantes.

Pavilhão de Portugal


Pavilhão de Shanghai


Pavilhão de Israel

O pavilhão de Portugal foi distinguido com um dos três “Prémio Design”, atribuído pelo Bureau International des Exhibitions, no encerramento. Tratava-se de uma construção de 2000 metros quadrados, revestida a cortiça, um material reciclável e ecológico, onde o país é líder de mercado a nível mundial. Ali, o visitante dispunha da mais moderna tecnologia, de produção lusa (a Zero Carbon), a mostrar a aposta portuguesa nas energias renováveis. Para proporcionar uma breve visita ao país, corria em looping o filme «Portugal, Energy for the World»:

PORTUGAL, UMA PRAÇA PARA O MUNDO from Anze Persin on Vimeo.

Revisitando a história universal, Portugal pode orgulhar-se de ser o país europeu com a relação mais antiga e estreita com o Império do Meio, selada pela oferta da península de Macau e das duas ilhas adjacentes.

Precisamente, no Pavilhão nacional, exibia-se um guache muito expressivo de José de Guimarães, a assinalar os 500 anos das relações de amizade luso-chinesas.

Guache “Thomas Pereira”

Em tons dourados na tela destaca-se um sino de bronze, revestido de caracteres chineses com enorme significado afectivo, a transcrever as palavras de gratidão e enorme respeito mandadas gravar pelo Imperador Kangxi na lápide do seu grande amigo português, conselheiro diplomático e professor de música – o jesuíta Thomas Pereira (1646-1708). Aliás, a pintura resulta de uma encomenda para as comemorações do terceiro centenário da morte do jesuíta (2008), mais conhecido na China que na sua terra natal. De facto, foi naquela corte imperial que T.Pereira se distinguiu, ocupando uma posição muito influente e gozando da estima do monarca.

É estranho e triste que um vulto de relevo na China seja praticamente desconhecido na história pátria. E, como se imagina, foi por mérito próprio que o jesuíta estrangeiro, oriundo de um país longínquo, se tornou tão próximo do Imperador, desde que ali chegou, em 1671. O currículo não deixa margem para dúvidas quanto aos seus notáveis talentos, tendo-se destacado na Astronomia, Geografia, Matemática, Arquitectura, Engenharia, Música, Religião e Política! A somar aos palmarés científicos e de erudição cultural, vale a pena referir que foi uma figura maior nas negociações das fronteiras sino-russas, consagradas no tratado de Nerchinsk – um documento ainda hoje considerado um marco na história diplomática da Ásia!

Apesar da imensidão de representações nacionais reunidas em Xangai, longe vão os tempos das grandes exposições de Paris, de onde nos chegaram monumentos emblemáticos como a Torre Eiffel ou jóias de uma beleza indizível, como a Regalia Imperial dos Romanov(1), uma miniatura das insígnias dos Czares, assinada por Fabergé e exibida no Pavilhão russo, em 1900. Naturalmente que perdura o mesmo ambiente de exibicionismo e de feira de vaidades… porque o ser humano mudou pouquíssimo desde que começou a povoar o planeta.

Isto dito, creio que vale bem a pena sobrevoar, novamente, os espantosos pavilhões de bandeira, verdadeiras acrobacias arquitectónicas, que deram corpo à Expo’2010, fascinando visitantes de todas as partes do mundo:



Para sugerir um regresso a Portugal – entusiasmado e revigorante – depois de planarmos sobre Xangai, reevoco o alcance do pequeno guache de Jorge de Guimarães, contendo cinco séculos da história de um povo precursor da globalização, com figuras maiores que deixaram marcas muito positivas nas civilizações mais distantes. Recorde-se que a presença jesuíta na China, iniciada pelos portugueses (1513), se prolongou até à destituição do último soberano do Império do Meio, já no século XX.

Óptima viagem por Xangai (ou Shanghai, se se preferir uma ortografia mais anglófona) e pela história,

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Segunda-feira)

________________________

(1) Pertence ao acervo do Hermitage e esteve, temporariamente, em Lisboa, na exposição dedicada aos tesouros dos Czares, patente na Galeria D.Luís durante o último trimestre de 2007. Composta de ouro e prata, é cravada a diamantes, safiras e rubis, ostentando um brilho e uma luminosidade que lhe conferem uma beleza invulgaríssima:



2 comentários:

marialemos disse...

Que interessante o seu post MZ.
Gostei da referência a Thomas Pereira e tentei saber mais na wikipedia mas há pouca informação sobre ele. Os Chineses irão provavelmente avançar em breve para uma participação maior na enciclopédia que faça justiça à sua história. Primeiro os negócios, depois tudo o resto, o que à primeira pode não parecer muito bem, mas pensando melhor é muito provavelmente correcto.

Anónimo disse...

Grande post, MZ! Cheio de substância e de sumo. As usual. Bjs. pcp

Acerca de mim

Arquivo do blogue