24 novembro 2010

Moleskine

Música. Fujo ao tipo de música que costumo postar. Hoje sai algo mais animado, com um ritmo sul-americano de fazer suar as unhas.



Encontro. Almoçámos frente a um bom bife que, naquele dia, era a única certeza que tínhamos – para além da amizade que nos une. Falámos de mudanças radicais de vida tendo como fundo motivador a saúde que devemos a nós próprios e aos outros. Quando se falou em largar vícios – aqueles que são socialmente aceitáveis – fugimos dos conceitos da comida que sabe como se tivéssemos o palato do Adrià, da calçada que se sobe com a alegria de um Obikwelu, do dinheiro que se poupa com a satisfação de um Scrooge. Falámos de coisas muito simples - do sentimento libertador que advém de vencer uma adição. Essa liberdade – que quem estava à minha frente associou àquela que Deus nos dá – é uma motivação extraordinária. Não sei se será motivação ou recompensa. Mas vai dar ao mesmo...

Televisão (I). Oiço nos telejornais da TVI que uma das novelas da estação venceu um prémio internacional, aparentemente equivalente a um Oscar. É sempre meritório por se tratar de uma produção nacional. Vejo a entrega de prémios - um grupo de profissionais rejubila com o galardão, saltando e dando gritinhos. Destaca-se, pela sobriedade, uma das actrizes cujo nome não recordo, que se mantém sossegada perante a alegria dos colegas. Percebo, afinal, que a sobriedade não é mais do que a tarefa ingrata de tapar uns seios assaz desnudos. Talvez mais do que ingratidão possamos falar de impossibilidade, dada a escassez de tecido no local em questão. Exuberâncias...

Televisão (II). Quem me conhece sabe que sou bastante anglófilo, fazendo deste tema um debate interessante com o meu querido amigo ATM, mais voltado para as coisinhas de França. Quem me conhece sabe também que gosto do Jamie Oliver, um chef inglês que prima pela evidente falta de higiene e pelo jeito para cozinhar de forma simples. Vi-o ontem e hoje num périplo por Itália, a verdadeira capital da cozinha saborosa. Orgulhei-me da sua capacidade para falar a língua local com um sotaque de fazer inveja aos poliglotas: agradeceu profusamente, repetindo grazie mille à exaustão, mas também se dirigiu de forma calorosa aos locais, pronunciando um hombre e señorita com a generosidade dos grandes impérios.

Televisão (III). Sou fã de uma série chamada Uma família muito moderna (Modern Family). Passa na Fox Life e faz-me rir sozinho em casa, o que é a maior prova (digo eu...) da sua qualidade. Não perca, numa televisão próxima de si.

Política. Sou só eu, ou já algum dos meus fiéis leitores deu por si a ter pena do Manuel Alegre, pela pobreza do que diz, por aquilo que me parece uma quantidade enorme de clichés por segundo? Quando o oiço prefiro esquecer-me do Manuel Alegre político e lembrar-me do outro Manuel Alegre, o do Meu amor é marinheiro. Depois, já conformado, ocorre-me o pensamento cujo autor me foge: sei que a poesia faz bem, mas não sei a quê...

JdB

7 comentários:

Anónimo disse...

Manuel Alegre: Absolutamente!! Tenha um bom dia. pcp

Anónimo disse...

Rita (generosa) Pereira?!
fq

Luísa A. disse...

João, desta vez, centro-me na sua última citação, que acho verdadeiramente deliciosa. Claro que poesia há muita (como os chapéus). As quadras populares são poesia e, geralmente, da que me faz bem, porque dispõe bem. E há uma outra poesia que COMPREENDO e aprecio pela carga, pela beleza e pelo ritmo das «frases», que também me faz bem, porque encanta com o seu poder de síntese e desperta emoções estéticas. Mas o resto, e especialmente a poesia dos nossos dias é, frequentemente, um osso mais duro de roer do que, para alguns, o cálculo das percentagens de adesão grevista. Desconfio de que há, por aí, uma indústria de produção de «emaranhados» de palavras soltas e desligadas, que nos são impingidos como poesia; e que há quem compre! Tenho visto, nos escaparates de reputadas livrarias, livros com meia dúzia de palavras por página, a lembrar aquelas telas, a que o pintor lançou, complacentemente, uns pingos de tinta, e que, por razões que transcendem o homem comum, passam a valer fortunas. O universo das artes não parece andar menos desatinado do que os nossos outros «universos». ;-D

Anónimo disse...

Com humildade e sem ironia, recomendo dois livrinhos em língua Portuguesa cristalina, que podem encontrar 'por aí', com relativa facilidade:
- "Aula de Poesia", Eduardo Pitta, Quetzal;
- "A Poesia Ensina a Cair", Eduardo Prado Coelho, Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Flores poéticas! ;)

gi.

arit netoj disse...

Só sei que você é um poema e faz-me muito bem!
Beijinhos sãos.

JdB disse...

PCP; fq, Luísa, gi, arit netoj: quando todo o entusiasmo me fenecer venho aqui ler os vossos comentários semanais. Obrigado por este brinde pós-grevista.
Uma ressalva, apenas: gostei da frase que citei, mas não me revejo na totalidade. Pelo menos não nos belíssimo poemas de quem posta às 6ªs feiras neste espaço.

Luísa A. disse...

Gi, prometo seguir as suas recomendações. A minha insensibilidade à poesia, mais do que uma questão de feitio, é, certamente, uma questão de falta de educação. :-)

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