07 março 2011

Fórmula para o caos

Europa, coligações e relações internacionais


Numa época em que muito se discute os benefícios e prejuízos das coligações entre partidos, de modo a alcançar maiorias governamentais estáveis, observemos alguns dos exemplos existentes na Europa.


Espanha. Qualquer que seja a força partidária a liderar os destinos de nuestros hermanos sempre terá que lidar com o eterno problema relacionado com as derivas independistas e nacionalistas presentes nas regiões autónomas de Espanha, principalmente no País Basco e na Catalunha. A situação basca prende-se mais com problemas de índole político-cultural, com a população basca desde há muito a reclamar a desintegração total do reino. Enquanto a catalã, que cria a maior parcela de riqueza de toda a Espanha, a pedir uma maior soberania fiscal. No fundo, recusa-se a estar constantemente a transferir fundos para as restantes regiões menos produtivas.


França. Este não é um caso de coligação clássica, se bem que o partido do poder (UMP) nasce de uma super coligação de diversas forças do centro direita francês. Relaciona-se mais com os crescimentos sazonais da extrema-direita materializada na Frente Nacional. Cada vez que se aproximam as eleições para o Eliseu, o líder do partido xenófobo e eurocéptico surge bem colocado nas sondagens. Até há poucas semanas atrás era Jean Marie Le Penn. Agora é a filha Marine que se posiciona como a personalidade política melhor colocada para vencer a primeira volta. Obviamente que ainda faltam 14 meses para o sufrágio, mas a posição de Sarkozy será forçosamente diferente,a derivar a para a direita até ao fim do mandato. Questões como a imigração, os direitos dos muçulmanos em França e as posições face à União Europeia vão alterar-se ainda mais, indo ao encontro do eleitorado posicionado à direita da UMP. Caso contrário, a eleição estará comprometida.


Itália. O sempre-em-pé Silvio Berlusconi segue todas a vias e utiliza todos os meios para manter à tona o seu Popolo della Libertá. Acossado pelos mais insólitos casos de corrupção, prostituição e lenocínio, e já sem Gianfranco Fini que há poucos meses abandonou a coligação, Il Cavalieri sustenta-se no seu ainda parceiro Umberto Bossi, líder da Liga Norte (partido xenófobo e nacionalista). À semelhança da Frente Nacional Gaulesa, também este partido do norte transalpino goza de enorme e crescente popularidade. Para continuar coligado, Berlusconi terá que seguir uma política de controlo musculado da imigração. Com os recentes acontecimentos na Líbia, a tendência natural dos refugiados do país de Kadafi é partirem para Itália. Aproveitando a vasta e incontrolável costa mediterrânica.


Reino Unido. Muitos eram os analistas que não previam longa vida à coligação entre Conservadores e Liberais Democratas. Porem, esta já leva quase uma ano sem grandes atritos. Não obstante o descontentamento demonstrado por alguns quadros dos Liberais, motivados pelos cortes orçamentais na saúde e educação levados a cabo pelo executivo.Não deixa de ser uma coligação sui generis entre um partido eurocéptico e outro profundamente integrado e envolvido no projecto europeu.


Irlanda. É, com toda a certeza, a mais jovem coligação de todas. Foi selada no passado Sábado, e junta o Fine Gael e o Labour. Com a situação financeira frágil que a Irlanda atravessa, apenas um governo sustentado numa maioria absoluta poderá levar a República da Irlanda a aproximar-se do caminho trilhado pelo Tigre Celta nos anos 80 e 90. É do conhecimento público que o Labour impôs como condição a renegociação dos juros do Fundo de Estabilização Europeia.


Alemanha. A coligação entre CDU e FDP afecta não só a vida interna da Alemanha, mas também as economias periféricas em apuros. Constituída por dois partidos pró-Europa, mas com visões diferentes. Os Democratas Cristãos de Angela Merkel preconizam uma Europa federal feita à imagem e semelhança da RFA. Os Liberais de Guido Westerwelle, pelo menos historicamente, sempre apoiaram uma Europa mais intergovernamental. Da saúde desta coligação, poderá depender a o reforço e flexibilização do Fundo Europeu a que Portugal poderá recorrer a breve prazo.


Pedro Castelo Branco

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