22 maio 2011

V Domingo da Páscoa

Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de Católico.

À hora a que escrevo falta pouco tempo para voar para Bona, na Alemanha. À hora a que me lerem estarei de regresso de um fim de semana em Bona, a representar a Acreditar. Durante quase três dias falaremos (falámos, porque o texto será lido no Domingo) de cancro infantil, de protocolos de tratamento, de investigação, de ética dos ensaios, de sobrevivência, de planos para o futuro.

Perguntarão, os mais distraídos ou mais incisivos, o que tem isto a ver com o V Domingo da Páscoa. A resposta é simples: nada e tudo. O que sou, a minha relação com a Acreditar e com as crianças que sofrem de cancro, o que penso sobre o drama dos pais, as minhas falhas no que devia fazer e não faço, nada disto é extrínseco à fé que tenho e que tento reforçar todos os dias, todos os domingos. Ir a Fátima, relembrando um episódio mais doloroso, não é uma romagem de martírio. Comover-me com a procissão das velas não é uma manifestação de masoquismo. Há quem vá ao ginásio exercitar o corpo; eu frequento locais de culto para aprimorar a alma.

Não digo nada de novo, não escrevo mais do que escrevi ao longo destes anos: a fé foi, seguramente, uma âncora à qual me agarrei em tempos de tormenta comigo próprio, com os outros mais próximos, com o destino que me foi oferecido pelas circunstâncias da vida. Tive a sorte, também, de todos os que privaram mais comigo terem percebido e incentivado essa caminhada. Cometi exageros? Seguramente, mas quando se abre o buraco maior na nossa vida, a expressão equilíbrio constante está no domínio do desumano.

Nestes últimos dias falou-se do drama que atinge, anualmente, algumas centenas de crianças em Portugal. Umas ficam, outras partem, vítimas de uma injustiça que nada tem a ver com Deus, que não é senão Amor. Comigo em Bona estiveram Pais, sobreviventes, médicos. Cada um tem a sua motivação para continuar a conviver com isto. A mim motiva-me a fé em dias melhores, uma disponibilidade mínima e desajeitada para deixar o mundo ligeiramente melhor. Talvez o meu lado mais obscuro precise desesperadamente de se manter à tona, no lado luminoso da vida e eu seja, por isso, um egoísta que tenta salvar a pele.

Bom Domingo para os que me lêem.

JdB

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Não se perturbe o vosso coração.
Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim.
Em casa de meu Pai há muitas moradas;
se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito.
Vou preparar-vos um lugar
e virei novamente para vos levar comigo,
para que, onde Eu estou, estejais vós também.
Para onde Eu vou, conheceis o caminho».
Disse-Lhe Tomé:
«Senhor, não sabemos para onde vais:
como podemos conhecer o caminho?»
Respondeu-lhe Jesus:
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vai ao Pai senão por Mim.
Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.
Mas desde agora já O conheceis e já O vistes».
Disse-Lhe Filipe:
«Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta».
Respondeu-lhe Jesus:
«Há tanto tempo que estou convosco
e não Me conheces, Filipe?
Quem Me vê, vê o Pai.
Como podes tu dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?
Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?
As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio;
mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras.
Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim;
acreditai ao menos pelas minhas obras.
Em verdade, em verdade vos digo:
quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço
e fará ainda maiores que estas,
porque Eu vou para o Pai».
Palavra da salvação.

1 comentário:

arit netoj disse...

Obrigada pela sua franqueza, por escanqueirar a alma...
É preciso Acreditar! Eu acredito na sua Fé em dias melhores, na sua capacidade em transformar o mundo em algo melhor. Não há necessidade dessa sua tendência para se maltratar - um egoísta a tentar desesperadamente salvar a pele? Esta é forte!Só espero que continue com esse culto de sobrevivência.
Beijinhos e boas viagens.

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