10 julho 2014

Das bizarrias da net


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Hesito, entre as duas amostras de mails que me mandam com alguma frequência, a que apreciarei mais. Qual perdurará nas papilas gustativas da minha mente, assemelhando-se a uma imperial gelada numa esplanada de fim de tarde, ao requiem de Mozart ouvido muito alto, à ronda da noite descortinada centímetro a centímetro sem hordas de japoneses pela frente? Alguém que se dirige a mim por "olá querida" e me quer dar dinheiro cativa imediatamente a minha atenção. Por outro lado, se alguém a quem imagino uma sapiência toda feita de respeito pelos anciãos e ausência de tecnologias modernas me escreve, pedindo que as bençãos de Deus desçam sobre mim e me concedam sabedoria e simpatia (mesmo que com um intuito vagamente egoísta), como posso ignorá-lo?

Há muito que recebo este tipo de mails - como milhões de outras pessoas pelo planeta fora, seguramente. Não me espanta, porque o mundo de hoje é assim mesmo. Questiono-me, no entanto - e talvez escreva a indagar, quando andar pelo jardim a ouvir as folhas a crescer sem nada que me convide à labuta profissional - quantas respostas têm estes cavalheiros. E o que sacam dos incautos que respondem, cativados por alguém que os trata por olá querida e lhes deseja o melhor do céu? Alguém me sabe responder? Dada a minha qualidade de tradutor e a pobreza dos exemplos acima, haverá aqui um nicho de mercado a explorar? 

E o que acontece se eu responder ao Senhor Klechi? Aparece-me um dia em casa abrindo-me os braços ao amplexo, disfarçadamente desiludido pelo olá querida de olhos fixos numa barba e numa obesidade menos feminina? Escrever a uma rapariga de 21 anos, mesmo que da Serra Leoa onde tudo começará mais cedo (excepto o nascer do sol) parece-me pouco próprio, mesmo que a Jennifer Erica Aronah me tenha sensibilizado com o seu convencimento de que sou um homem confiável e de boa reputação. 

JdB
    


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