15 julho 2016

Das vitórias merecidas

Há umas semanas uns amigos convidaram-me para ver um jogo de Portugal do campeonato europeu de futebol. Não me lembro de que jogo era, apenas que Portugal ganhou, pelo que não será difícil identificar o oponente. Polónia? No fim do jogo disse a um amigo, apesar de estar obviamente feliz pela vitória nacional, que tínhamos jogado pouco. A resposta veio rápida: não interessa, ganhámos! 

Vem isto a propósito da vitória de Portugal no campeonato europeu. O País vive uma onda eufórica de nacionalismo justificado. Afinal, somos campeões europeus, para além de termos ganho à arrogância gaulesa em casa deles. Jogámos bem? Não me parece. Merecíamos ganhar? Não faço ideia, não sei qual era a equipa que praticava melhor futebol. Sei que fomos eficientes e que, muito provavelmente, tivemos sorte. No entanto, a euforia é total, somos a última coca-cola do deserto. Mesmo que não merecêssemos ganhar, ganhámos, e isso é que importa.

Não me interesse discutir o futebol, mas fazer uma analogia para uma certa parte da nossa vida. Como devemos reagir a uma vitória imerecida, baseada na sorte, nalgum saber, numa forma de realizar que elimina a competição (qualquer que ela seja). Onde fica o mérito (e a beleza, numa dimensão mais esotérica) nesta alegria toda? Estamos, de alguma forma, a ensinar - ou a reconhecer - que o importante é ganhar? 

Não me interpretem mal: não sou velho do Restelo, não desdenho o orgulho de sermos campeões europeus de futebol, tenho uma enorme consideração pessoal (não sei avaliar a competência profissional) pelo Fernando Santos e por muitos dos nossos jogadores, gente esforçada que faz o seu melhor. Mas esta ideia das sociedades de hoje que demonstram um certo desinteresse pelo tema mérito, qualidade, esforço, desde que se ganhe qualquer coisa faz-me pensar. Somos um tempo todo feito da importância dos resultados. A mim parece-me que há algo de perverso nisso.

Desculpem qualquer coisinha. Estou com sono e desinspirado. Talvez seja isso, então.

JdB

1 comentário:

Raquel da Câmara disse...

Também estou contente com o facto de Portugal ser campeão da Europa em futebol. Mas não podia concordar mais com a analogia que fez. Era fabuloso que o sono e a desinspiração de toda a gente revelasse, o que considero ser, sensatez. Só para dizer que gostei e ponto final!

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