19 março 2009

Dia do Pai

Hoje é dia 19 de Março, e eu não esqueço a minha condição de pai.

Hoje também, mas há oito anos, recebia uma chamada feita por um telemóvel cujo número me era próximo. O susto começou quando me apercebi que quem estava do lado de lá - que eu também conhecia - não pertencia àquele telefone. O sufoco continuou com as duas ou três frases que se seguiram. A combinação não podia ser mais desastrosa - a voz, o número de telefone, o discurso.

De então para cá a minha vida mudou radicalmente. O que era dado como garantido tornou-se incerto, abri os olhos para outras realidades, fui confrontado com a dor e a esperança, a alegria e o sofrimento, a proximidade e a indiferença - tudo isto em doses que me pareceram, muitas vezes, demasiadas. De bom grado voltaria atrás, a uma vida mais pacata, mas talvez com menos sentido, a uma existência mais mansa, mas talvez menos desafiadora.

O meu post de hoje é dedicado aos pais, no sentido masculino do termo. Em primeiro lugar, àqueles que, vítimas do infortúnio, viram os seus filhos partir na curva da estrada. Alguns que eu conheci, outros tantos cujo nome não sei, muitos ainda com quem me cruzo na incógnita da vida. A lógica das coisas manda que nós vamos antes deles, e é por isso (também) que ainda não se encontrou um nome para um pai em luto.

Vai, também, uma palavra especial para aqueles que, olhando para os seus filhos, ainda vivem o sufoco da doença, a aflição do futuro, o desafio da esperança, a angústia da distância. Que não percam a confiança, a fé (independentemente da forma em que se manifesta), a capacidade de ir à luta, o sonho de dias melhores. Tenho muitos, também, de quem me lembrar.

Por último, a todos os pais felizes de filhos saudáveis e próximos, para que gozem a sua paternidade de uma forma responsável e plena, na lembrança de todos aqueles que o quiseram fazer e não conseguiram, porque as circunstâncias da vida os não deixaram.

E porque hoje me lembro da minha condição de pai, fica uma palavra especial para o meu próprio.

JdB

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro JB,
Também fruto das circunstâncias, lembro especialmente neste dia o meu pai.
Gostei muito do seu texto, escrito por um pai a sério.
Grande abraço,
fq

Anónimo disse...

Um beijo muito especial e um abraço apertado a um dos melhores pais que conheço: Tu! RF

Anónimo disse...

JdB,
Pelo que percebo estas datas são muito marcantes para si.
É doloroso um Pai passar pelo que passou, mas também pode pensar, que é um previligiado de ser o Pai de uma pessoa tão especial, pessoa essa que o fez ver e sentir a vida de outra maneira.
A vida para si tornou-se uma batalha diaria para ajudar os outros, pois no seu texto fala deles.
Continue a ser como é, pois o seu coração é nobre.
O seu FILHO estará à direita do PAI, a olhar por todos nós.
Bom Dia do Pai.....

Anónimo disse...

JdB
Lindo o texto.
Mas eu gostaria também de lembrar os filhos que desejariam de ter o pai por perto, poder dar-lhe um beijo repenicado ao acordar. Esses filhos a quem as circunstâncias da vida, não deixaram gozar este dia.

Anónimo disse...

A intensidade da sua condição de pai inspira-nos a acreditar na eternidade, num “Amor que é mais forte do que a morte porque é mais forte do que a vida.” (Varillon)

Beijinhos e parabéns por ser um pai eterno.

ana v. disse...

Não gosto de datas, João. Marcam-nos a ferro, para o bem e para o mal, e são muitas vezes gritantemente incongruentes. É o caso desta, que o pôs, a si, à prova como pai até um ponto inimaginável. E que lhe traz memórias tristes, em vez de ser um dia de celebração. Quer mais um exemplo? Este dia do pai, ontem mesmo, em que foi condenado a prisão perpétua um pai que condenou à morte, em vida, a sua filha. E os sete filhos de ambos.
É por isso que não gosto de datas.
Um beijo

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