13 março 2009

notas dissolventes (ou a essência decantada da espuma dos dias)

quem me lê (aqui no 'adeus..' ou no 'flores..') sabe que não tenho por hábito comentar essa coisa viscosa chamada 'actualidade'. as minhas actividades na blogoesfera não nasceram de um ímpeto comentarista - e sou daqueles que entende que devemos ser ciosos da nossa missão, da nossa vocação.

dito isto, irresitível deixar aqui umas breves notas, a título algo excepcional:

a) parece que centenas ou milhares de clientes do BPP se arriscam sériamente a perder parte muito significativa dos seus depósitos e/ou aplicações. faz parte das regras do jogo, nesta sociedade de especulação-intensiva, dir-me-ão os mais 'liberais' (na acepção económica do termo). certíssimo. o problema que nos desgosta e desgasta é a subtil diferença entre o jogo financeiro e conceitos como 'informação errónea', 'aconselhamento abusivo', 'fraudezinha suave'. alia-se esta com a chico-espertice e a falta de cultura económico-financeira e o resultado é o desastre. a mim parece-me que, mais uma vez, a palavra é também.. impunidade.

b) escutamos na rádio que um dos administradores do BPN foi demolidor no seu testemunho, na Assembleia da República, sobre o ex-presidente do banco, relatando conselhos de administração 'caóticos', entre outros adjectivos pouco simpáticos. está no seu direito - e, se calhar, no seu dever. mas onde pára a cortesia profissional e o saber tirar consequências das coisas? estas pessoas, que agora parecem desesperadamente descartar responsabilidades, também descartaram os salários e regalias que auferiam, na pretérita qualidade de administradores? todos sabemos a resposta. não quero parecer justiceiro, mas qual é a palavra? ah, pois, é feia..

c) no consultório, enquanto esperamos, assistimos, via "SIC Notícias", ao esplendor das trocas de galhardetes entre as delegações portuguesa e angolana. uma certeza: isto é o espectáculo da 'real politik' elevada a 'política de Estado'. e uma dúvida inquietante: 'se fôssemos nós, naqueles cargos, como actuaríamos?' esta é a parte de que os portugueses sempre se esquecem. criticar é mais ou menos fácil - ainda que, para o ser com inteligência, requeira alguns 'skills' -, agora indagarmo-nos a nós próprios é bastante mais difícil, não é? qual é a palavra? agora escolha(m), como dizia a outra..

d) parece, diz-nos o 'público', que a editora campo das letras, do porto, está em falência técnica. precisa de um milhão de euros que 'dificilmente aparecerá'. tenho, lá por casa, bons livros editados por estes senhores. enfim, a vertigem dos pobrezinhos - e desculpem a expressão - é a incapacidade de quebrar o ciclo de pobreza. falo do país, claro está. não faço ideia se a editora foi bem ou mal gerida; não conheço os seus proprietáros; não sei ver se é apenas e só o sacrossanto mercado a funcionar. mas, acho eu, tenho o direito, ia escrever de cidadania, de me sentir um bocadinho triste com este tipo de notícias. e de achar que, de forma mais linear ou mais oblíqua, ficamos todos um bocadinho mais pobres. qual é a palavra? ãh? 'malaise', em francês e tudo? pode ser..

e) quem me conhece, sabe que uma das coisas que mais me liga à terra, digamos assim, é o sporting. de facto - reconheço-o perfeitamente -, uma coisa que tem o condão de me alterar significativamente o estado de espírito, o humor, o ânimo, concerteza que alguma importância terá. ontem, mais uma vez, demos uma paupérrima imagem do clube (do país? mas, neste campo dos futebóis, tendo a não confundir as coisas..). 7-1, em munique. depois de 5-0 em alvalade. mau demais. hoje, ao ler alguns dos blogs sportinguistas que inundam o ciberespaço, por entre desabafos emocionados, impropérios em barda e coisas afins, encontrei um 'post' assim titulado: 'holocausto sportinguista'. percebo a ideia. mas usar essa palavra maldita para designar um facto desportivo (mesmo que seja muito mais do que isso, como bem sabemos) deixa-me indignado. de facto, as palavras podem ser letais. e, quando tratadas com os pés, atrozmente ridículas. qual é a palavra? náusea?

1 comentário:

Anónimo disse...

No meu caso a palavra é tédio - o que é ainda mais triste. RF

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