Ontem era a gala de abertura dos trabalhos do SIOP - Societé Internacionale de Oncologie Pediatrique -, organismo a que o ICCCPO se junta para as suas reuniões anuais. De um lado os médicos, do outro os pais. No fundo, no fundo, as partes interessadas (para usar uma expressão mais corrente do que afectiva) quando se trata de uma criança com cancro.
O programa social passava por um espectáculo na Sala São Paulo, um belíssimo recinto recuperado a partir de uma antiga estação de caminhos-de-ferro, onde se ouviria música de Tom Jobim, Villa-Lobos, Nepomuceno, Francisca Gonzaga, Ary Barroso. Antes do show, uma multidão afadigando-se de volta de petit riens que se comem, se bebem, se conversam, se riem. Encontrões, apertos, dificuldades em chegar às vitualhas, gente que defende a sua travessa como se não houvesse amanhã. 1200 pessoas, talvez mais, na sua esmagadora maioria médicos da área da oncologia pediátrica. Eu conversava com a sumidade portuguesa, de quase 80 anos, fundador do serviço de pediatria do IPO. E os encontrões, e as sumidades, e os apertos, e os cercos, e a boca seca. E um empregado que, no meio daquele mar de gente, se dirige a mim (sim, a mim e não a quem estava comigo, a quem trato respeitosamente por Senhor Professor) e me diz com um sorriso genuíno:
- Dôtô João! Ali ao lado tem uma sala com menos gente.
Olhei para ele e retribuí o sorriso que acompanhei com um agradecimento. Lembrei-me do Eça, no Conde de Abranhos:
- Bom rapaz, este António...
O post abaixo fala de cancro, de cancro, de cancro. O tema está subjacente em todas as palestras ou trabalhos de grupos, porque é por isso que esta gente se reúne. Quando falamos entre pais imginamos as histórias, as saudades, as expectativas, os desgostos, as pequenas melhoras, os exemplos, os casos de sucesso, a lágrima fácil e sentida. Ontem, ao ver aquelas mais de mil pessoas, entre pais e profissionais de saúde, na sala S. Paulo, imaginei, metaforicamente, o recinto totalmente vazio e a oncologia pediátrica remetida a uma história de memórias antigas, de sorrisos com que brindamos algumas efemérides e lembranças. Ontem vi a vitória à minha frente. E disse três vezes, tantas quantas as que usei para a palavra cancro: esperança, esperança, esperança.
Acreditar é, sobretudo, isto.
1 comentário:
Para o cancro e para tudo na Vida. Obrigada, JdB, estou a adorar seguir o seu congresso em S. Paulo. pcp
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