25 dezembro 2009

la princesa de hielo

na calle del principe, por entre tragos de ocasião,
entreolhando as chicas que serpenteiam,
esse rio esplendoroso que as cidades oferecem
em noites de folia e fim-de-semana à porta,
relembras as sublimes memórias de ruy belo,
polaroids que te estalam em brasa,
castanhas interiores devorando a chama
que lavra no teu peito - e por ela sendo devoradas.
fogo contra fogo, olho por olho, dente por dente.

na plaza mayor, gelada e fria geografia urbana,
contrarias o termómetro por um momento,
agarrando a mão da menina de nove anos,
de cabelos e sonhos ainda ao vento,
palacio de los reyes mas em mais bonito,
porque transbordantemente humano,
e esqueces o rosto que te inunda os dias
e o rasto desse rosto que te embriaga
uma e outra vez, uma e outra noite,
uma e toda (e outra que fora) a tua vida.

segues por entre ruas e ruelas, descobrindo
os mundos mil que sempre os barrios de las letras
para ti encerram. como nesse ateneo, pó e cinza,
banhado a dignidade que cheira à légua a coisas
caídas em desuso - amor às artes, amor ao mundo,
amor às causas, amor às coisas, amor a tudo.
páras, para recuperar o fôlego que sabes não ter,
e olhas para a tabuleta que nomeia a pequeña plaza
de santa ana - teu local de encontro e passagem,
feira e igreja, santuário madrileño e romaria.

até aqui - pensas - nesta espécie de casa,
se porventura um país novo em armas tomasses,
até aqui - sentes - nesta espécie de pátria emprestada,
onde o futuro pode ainda estar por acontecer,
até aqui - choras agora - nesta espécie de cidade nova, renovada,
paira a sombra e o salero (e o amor e a fúria e a raiva)
de saber para sempre teu esse excelso e único
- gravado na pele e na memória cerrada e gelada -
nome de santa, nome de ladra, nome da única

que nomeaste um dia como mulher.


gi.

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