02 junho 2010

Vai um gin do Peter’s

Hoje gostava de vos fazer chegar um gin especial, dos que se servem no Peter’s, à vista dos muitos veleiros que se abrigam na ilha do Faial, para recuperar forças após as travessias agitadas no Atlântico. Este gin é um TOP 10 de mensagens incrivelmente marcantes, apenas como aperitivo do legado riquíssimo que Bento XVI transmitiu em Portugal(1), onde impressiona a sua confiança no potencial de Bem que vislumbra, apesar de tantas realidades negativas que hoje nos assaltam.

Diz o poeta açoriano, Vitorino Nemésio, a propósito da Cova de Iria que «em Fátima, a Humanidade inteira passou a valer mais». Mas sempre que conseguimos olhar a cidade dos homens com ternura e confiança, apesar das falhas de cada um, a Humanidade passa sempre a valer mais. Ou não será?

Quem acompanhou, minimamente, a visita do Papa terá experimentado momentos desses, como o noticiaram inúmeros jornalistas estrangeiros, nestes termos incisivos: «A peregrinação a Portugal abre uma nova etapa no seu Pontificado (…) haverá um ‘antes’ e um ‘pós’-Portugal (…) é o que ressalta das entrevistas com especialistas de informação»(2) do El Pais, do New York Times, do Figaro, do Il Giornale (para apenas referir um periódico por país), com títulos eloquentes como «Gladiador Solitário», «Uma fortaleza imprevista», «Um Bento XVI até então desconhecido»…

As dez temáticas do TOP 10 incluem:

Perfil de um defensor da liberdade, ao serviço de todos

Portugal visto por um olhar de Pai

Cultura – um Papa fascinado pela Beleza

Esperança – a chave do futuro

O mal radiografado com invulgar coragem

Fátima na história dos séculos XX e XXI

A alegria de amar – o dom supremo

O ser humano – características e possibilidades

Sofrimento – mensagem aos doentes

Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade


Perfil de um defensor da liberdade, ao serviço de todos

- Lema da viagem: «Contigo caminhamos na esperança, Sabedoria e Missão»

- «(O Papa não existe para) impor a Fé de cima, pois esta é antes de mais um dom da liberdade.» (Homilia em Abril de 2005, Vaticano)

- «Nada impomos, mas sempre propomos (…) trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus…» (14.Maio – Missa no Porto)

- «…Hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos.» (14.Maio – Missa no Porto)

- «Viver na pluralidade de sistemas de valores… exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão…» (11.Maio – Aeroporto da Portela)

- «Esta é a missão… receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida» (14.Maio – Missa no Porto)

Portugal visto por um olhar de Pai

- «…(Portugal) levou a fé a todas as partes do mundo; uma fé corajosa, inteligente e criativa. Soube criar uma grande cultura… A dialéctica entre secularismo e fé tem uma longa história em Portugal… Hoje vemos que justamente esta dialéctica é uma chance; que devemos encontrar uma síntese e um diálogo profundo e de vanguarda… integrar a fé e a racionalidade moderna numa única visão antropológica, que completa o ser humano e torna, desse modo, também comunicáveis as culturas humanas (11.Maio – Encontro com os jornalistas, no avião)

- «Nos tempos passados, a vossa saída em demanda de outros povos não impediu nem destruiu os vínculos com o que éreis e acreditáveis, mas, com sabedoria cristã, pudestes transplantar exigências e particularidades abrindo-vos ao contributo dos outros para serdes vós próprios, em aparente debilidade que é força (11.Maio – Missa no Terreiro do Paço, Lisboa)


- «O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum (dos Descobrimentos)… originou aquilo a que podemos chamar uma ‘sabedoria’ isto é, um sentido da vida e da história… um ‘ideal’ a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo (12.Maio – Encontro com o Mundo da Cultura, no CCB)

- «Lisboa amiga, porto e abrigo de tantas esperanças…, gostava hoje de usar as chaves que me entregas para alicerçar as tuas esperanças humanas na Esperança divina.» (11.Maio – Missa em Lisboa)

Cultura – um Papa fascinado pela Beleza

Na senda de Dostoievski –«A beleza salvará o mundo»(3)–, que Bento XVI cita frequentemente, o Papa reconhece aos artífices da cultura uma alta vocação:


- «Esta é a hora que reclama o melhor das nossa forças… tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade… de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento… E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza…» (12.Maio – Encontro no CCB)

- «Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza (12.Maio – Encontro no CCB)

- «Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza… (O) respeito por outras ‘verdades’ ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade.» (12.Maio – Encontro no CCB)

- «O que é que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que é que pode encorajar o ânimo humano a reencontrar o seu caminho, a erguer o olhar além do horizonte imediato, a sonhar uma vida digna da sua vocação se não a Beleza?» (Nov.2009, Encontro com os Artistas, na Capela Sistina, parcialmente citado no CCB)

- «(A arte) conduz-nos a colher o Todo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da humanidade». (Nov.2009, parcialmente citado no CCB)

- «A beleza chama a atenção, mas precisamente assim recorda ao homem o seu destino último… enche-o de nova esperança, dá-lhe a coragem de viver até ao fim o dom único da existência. A busca da beleza da qual falo, evidentemente, não consiste em fuga alguma no irracional ou no mero esteticismo… A autêntica beleza abre o coração humano à nostalgia, ao desejo profundo de conhecer, de amar, de ir para o Alto, para o Além de si.» (Nov.2009, parcialmente citado no CCB)

- «Queridos Artistas,… vós sois guardiães da beleza… A fé nada tira ao vosso génio, à vossa arte, aliás exalta-os e alimenta-os, encoraja-os a cruzar o limiar e a contemplar com olhos fascinados e comovidos a meta última e definitiva, o sol sem ocaso que ilumina e torna belo o presente (Nov.2009, parcialmente citado no CCB)

Esperança – a chave do futuro

- «(A) nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré. (…) A linhagem do povo de Deus será conhecida… com uma esperança inabalável e que frutifica num amor que se sacrifica pelos outros, mas não sacrifica os outros; antes… ‘tudo acredita, tudo espera’» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «Sim! O Senhor é a nossa grande esperança, está connosco; no seu amor misericordioso oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo.» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «… durante a Missa (11.Maio) falei da necessidade dos cristãos serem semeadores da esperança (…) num mundo marcado pela desconfiança.» (19.Maio – Audiência Geral das Quartas, no Vaticano)

Testemunho de Manoel de Oliveira, porta-voz dos intelectuais portugueses: «E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: ‘Terrível palavra é o NON… que tira a ESPERANÇA que é a última coisa que a natureza deixou ao homem” (12.Maio – Encontro no CCB)

O mal radiografado com invulgar coragem

- «…hoje vemos (o mal) de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição à Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de… aceitar a purificação… o perdão, mas também tem necessidade da justiça.»

(11.Maio – Encontro com os jornalistas, no avião)

- «Assim respondemos que somos realistas ao esperar que o mal ataca sempre; ataca do interior e do exterior, mas que também as forças do bem estão presentes e que, no final, o Senhor é mais forte do que o mal… é sempre a última palavra na história.» (11.Maio – Encontro com os jornalistas, no avião)

No próximo gin, a 16 de Junho, desfilarão as restantes temáticas deste duplo aperitivo: Fátima na história dos séculos XX e XXI; A alegria de amar; O ser humano; Sofrimento; Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade.

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

_____________

(1) Para consultar os textos, na íntegra, aceda ao site: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2010/index_portogallo_po.htm

(2) In Zenit, Roma, 17 de Maio de 2010.

(3) Proferido pela personagem de «O Idiota»: o príncipe Miskin.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nem sei o que dizer perante tanta informação tão substanciada, sentida e interiorizada! Prefiro-me ficar por uma pequena história/anedota, que ouvi de fonte segura, a propósito da ida do Papa ao CCB. Parece que o Papa se terá levantado para saudar o Manoel de Oliveira. Nem vou comentar a beleza deste gesto! Prefiro-me ficar pela graça: alguém dizia - ah, mas isso é normalíssimo! O Papa não passa dum miúdo ao pé do Manoel de Oliveira. Bjs, MZ. pcp

JdB disse...

Tal como escrevi há uma ou duas semanas, "reconciliei-me" com este Papa - mais com a imagem que tinha dele, ´óbvio.
Obrigado por este trabalho de casa feito para todos nós, católicos ou não, que se revêem no Papa, naquilo que ele defende, na radicalidade (no verdadeiro sentido da palavra, ou seja, no melhor) do seu pensamento.
É um gosto lê-la. Sempre.
Obrigado.

Anónimo disse...

Sabe, dono do blogue, a MZ é fã deste Papa desde sempre, desde o tempo em que ele era ainda Cardeal Ratzinger. Dizia-me coisas maravilhosas dele. Imagine a alegria dela quando ele foi eleito Papa! Se quer que lhe diga foi por causa dela, e dos olhos dela, que eu passei a gostar imenso dele. É o Papa da minha vida, não gostarei tanto doutro de certeza. E por isso estive a trabalhar para ele na semana em que esteve em Portugal. A sua inteligência, lucidez, timidez, humildade, bondade, capacidade de se dirigir a cada um como único, a linguagem (relativamente) simples para comunicar grandes Verdades, a capacidade de usar a Razão sem esmagar a Fé, antes iluminando-a, são uma mistura que me comove e fascina. Se conversar com a MZ sobre este Papa, vai subir ao Céu... risos... bjs. pcp

Anónimo disse...

Gostava de Ratzinger, do pouco que o conhecia. De Bento XVI passei a conhecer mais, e a gostar também mais, sobretudo depois desta sua marcante vinda a Portugal.
O trabalho de MZ é magnífico, muito bem feito, para ler, reler, mostrar e guardar.
Excelentes igualmente os comentários anteriores.
Saudades a todos.
fq

Anónimo disse...

De facto, se há pessoa inspiradora nos dias de hoje é este Papa, um apaixonado por tudo o q. é Belo, na acepção mais sublime.
Confesso que além de adorar escrever para este blog, tão aberto e generoso, tb acho é empolgante e inspirador participar neste espaço de partilha de impressões e dicas com todos.
Bjs e obrigada,
MZ

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