16 junho 2010

Vai um gin do Peter’s ?

Dando continuidade ao gin de 2 de Junho, que iniciou o aperitivo à mensagem riquíssima que o Papa legou a Portugal(1), é hora de desfiar as 5 temáticas que perfazem o conjunto dos TOP 10 de grandes momentos da sua Visita de Maio

- neste gin:

Fátima na história dos séculos XX e XXI

A alegria de amar – o dom supremo

O ser humano – características e possibilidades

Sofrimento – mensagem aos doentes

Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade

- a 2 de Junho:

Perfil de um defensor da liberdade, ao serviço de todos

Portugal visto por um olhar de Pai

Cultura – um Papa fascinado pela Beleza

Esperança – a chave do futuro

O mal radiografado com invulgar coragem

Em Bento XVI, a sabedoria das palavras vem impregnada de um alcance poético impressionante, que lhes confere um colorido e jovialidade invulgaríssimos. Lembro um par de exemplos, nesta viagem: «A ‘Branca Senhora’ na aparição», «com a vela acesa na mão, lembrais um mar de luz», «Quem aprende o Amor… será pessoa para os outros», «servir Cristo na humanidade que vos espera», «num momento em que se falava de Inverno na Igreja, o Espírito Santo criava uma nova Primavera»…

Como os grandes Homens comungam de óbvias afinidades, vem a propósito citar Mahatma Gandhi, com um lema de vida aplicável, na perfeição, a Bento XVI: «Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da minha consciência».

Fátima na história dos séculos XX e XXI

- «Fátima, lugar privilegiado da misericórdia de Deus» (19.Maio – Audiência Geral das Quartas, no Vaticano, referindo a Visita a Portugal)

- «Nossa Senhora ajudou (os Pastorinhos) a abrir o coração à universalidade do amor (13.Maio – Missa em Fátima)

- «Que… há 93 anos (em 1917), o Céu se abrisse precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta – para reatar, no seio da família humana, os laços da solidariedade fraterna assente no mútuo reconhecimento de um só e mesmo Pai…» (11.Maio – no Aeroporto)

- «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Aqui revive(-se) aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios… o homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo. Na Sagrada Escritura é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima…» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «…É precisamente de esperança que está profundamente impregnada a mensagem – exigente e ao mesmo tempo consoladora– que Nossa Senhora deixou em Fátima. É uma mensagem centrada na oração, na penitência e na conversão, que se projecta para além das ameaças, dos perigos e dos horrores da história, para convidar o homem a ter confiança na acção de Deus, a cultivar a grande esperança, a fazer a experiência da graça do Senhor para se enamorar dele, fonte de amor e de paz.» (19.Maio – Audiência no Vaticano)

- «… Maria, aparecendo aos três pastorinhos, abriu no mundo um espaço privilegiado para encontrar a misericórdia divina que cura e salva. Em Fátima, a Virgem Santa convida todos a considerarem a terra como lugar da nossa peregrinação rumo à pátria definitiva, que é o céu. Na realidade, todos somos peregrinos, temos necessidade da Mãe que nos guia.» (19.Maio – Audiência no Vaticano)

- «Em Fátima, rezei pelo mundo inteiro pedindo que o futuro traga maior fraternidade e solidariedade, um maior respeito recíproco…» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

O cronista do Fígaro, a poucos metros do Papa, na Capelinha imortalizou, nestes termos, o momento da deposição da Rosa de Ouro aos pés da Imagem: «Isto pode parecer ridículo e infantil, mas foi em Fátima que a mais bela espiritualidade da Igreja apareceu, em plena luz do dia. A espiritualidade da criança que sabe que deve tudo a Deus. Escolhi este exemplo porque tive o privilégio de estar a poucos metros do Papa e fiquei impressionado – tocado até – com a simplicidade da sua meditação. Parecia uma criança que trouxe um presente para a sua mãe. Nada existia à sua volta, nem câmaras de televisão, nem a multidão, nem mesmo o estatuto de Papa. Ali, era um grande cristão, humilde, que parecia falar com ‘alguém’ que estava realmente presente. Estas são coisas que normalmente não descrevemos no nosso trabalho como jornalistas, mas, desta vez, o mistério foi ‘palpável’. Nesse sentido, essa imagem resume toda a viagem: o poder da fé, a força de Fátima e a simplicidade humana que fala mais que palavras, porque a fé fala directamente ao coração. É realmente a mensagem chave, fundamental para a fé cristã


A alegria de amar – o dom supremo

- «Recomenda-nos que façamos nosso o estilo do Bom Samaritano … E qual é esse estilo? É ‘um coração que vê.’ Este coração vê onde há necessidade de amor e actua…» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- « (O) Bom Samaritano é Ele, que se faz próximo de todos os homens e… os conduz à estalagem, que é a Igreja, onde os faz tratar… através da justiça e da caridade, para vivermos com um coração de bom samaritano.» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- «Quem aprende de Deus Amor será inevitavelmente pessoa para os outros. Unidos a Cristo… somos tomados pela sua compaixão pelas multidões que pedem justiça e solidariedade e, como o bom samaritano da parábola, esforçamo-nos por dar respostas concretas e generosas.» (13.Maio – Encontro com a Pastoral Social, em Fátima)

- «Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres.» (11.Maio – Missa no Terreiro do Paço, Lisboa)

- «Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa… Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente ao mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.» (11.Maio – Missa em Lisboa)


- «Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz.» (13.Maio – Missa em Fátima)

- «… Aqueles que crêem na caridade divina têm a certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens» (13.Maio – Missa em Fátima, citando o Concílio Vaticano II)

O ser humano – características e possibilidades

A grande personagem concebida por Camus, Calígula, verbaliza com especial acuidade a tensão que inquieta o espírito humano: «Quero o impossível. (…) Eis o que me persegue. Este ir para além», à qual Bento XVI, com a sua extrema lucidez, não se esquiva a responder:

- «A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre a realidade transcendente, a fé e a razão (é) que o homem se encontra» (11.Maio – Encontro com os jornalistas, no avião)

- «… Só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além.» (11.Maio – Missa em Lisboa)

- «A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro… (O actual) conflito entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade… De facto, um povo que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos… A fidelidade à pessoa humana exige a fidelidade à verdade, a única garantia de liberdade…» (12.Maio – Encontro com o Mundo da Cultura, no CCB)

- «A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade… tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética.» (11.Maio – no Aeroporto)

- «Aquilo que fascina é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo dando testemunho d’Ele. (…) é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja… » (13.Maio – Encontro com os Bispos, em Fátima)

Sofrimento – mensagem aos doentes

- «Meu irmão e minha irmã, tens para Deus um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue… a partir de então propaga-se em todo o sofrimento a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança.» (13.Maio – Saudação aos doentes, em Fátima)

- «…Poderás superar a sensação de inutilidade do sofrimento que desgasta a pessoa… Como é possível? As fontes da força divina jorram precisamente no meio da fragilidade humana. É o paradoxo do Evangelho. Por isso o divino Mestre, mais do que demorar-se a explicar as razões do sofrimento, preferiu chamar cada um a segui-Lo…» (13.Maio – Saudação aos doentes, em Fátima)

Despedida comovida, abraçando as pessoas de boa vontade

- «Desça sobre Portugal e todos os seus filhos e filhas a minha Bênção Apostólica, portadora de esperança, de paz e de coragem… Continuemos a caminhar na esperança! Adeus!» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

- «Para todos os portugueses, fiéis católicos ou não, aos homens e mulheres que aqui vivem, mesmo sem aqui terem nascido, vai a minha saudação na hora da despedida. Não cesse entre vós de crescer a concórdia, essencial para uma sólida coesão, caminho necessário para enfrentar com responsabilidade comum os desafios com que vos debateis.» (14.Maio – Cerimónia de Despedida, no Porto)

Haverá melhor prova do sucesso desta viagem, quando o Papa planeia voltar a Portugal e o cronista do Fígaro, Jean-Marie Guénois (já referido), a descreve como um ponto alto do seu pontificado? Citando-o: «O impacto foi mundial, sem dúvida, precisamente por causa do contexto e da capacidade de resposta do povo português… No fundo, o apelo à missão dos cristãos na sociedade… não surge como uma imposição, mas como uma proposta. Não é uma luta sem inteligência contra as forças da razão, mas uma reconciliação com as forças da razão. É assim o pontificado de Bento XVI

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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(1) Para consultar os textos, na íntegra, aceda ao site: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2010/index_portogallo_po.htm

2 comentários:

Anónimo disse...

Comentar o que o Papa diz é algo a que não me atrevo. Mas não posso deixar de observar que nele, como em todas as pessoas a quem move um ideal para o Bem, para o Bom, para a Verdade, há qualquer coisa que salta à vista, que os faz destacarem-se dos outros. Brilham sem o quererem. Tenho visto isto algumas coisas na televisão, por exemplo. De um grupo de gente inteligente, sabedora, intelectual que reflecte sobre os nossos macro e micro problemas, quem se destaca sempre, sempre, é quem tem este ideal. Os outros parecem umas formiguinhas ao lado deles. Eu, pelo menos, acho. Bjs. pcp

Anónimo disse...

Concordo 100% contigo. Normalmente, vê-se logo no olhar esse sentido de ideal, que transborda sempre... Bjs, mz

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