22 junho 2016

Do feitio de Jesus (IV e último)

Na sequência deste post, também deste post e, por último deste post.

O que era, de facto, o feitio de Jesus? E, em bom rigor, de que nos serve saber o que era o feitio dele? Ao que parece o casamento por amor é uma construção do romantismo; ouvi um dia que o conforto de uma tarde chuvosa à lareira era uma construção do romantismo. A ideia que temos de Jesus é uma construção de quê e de quem? 

Nos posts anteriores referi 17 ou 18 milagres de Cristo, milagres esses descritos nos evangelhos de Lucas. Não há um único adjectivo que qualifique Jesus como uma homem simpático, carinhoso, suave, amável terno ou doce. Também nada nos diz que ele era um homem agreste, duro, amargo, sofrido, nada complacente. Para usar uma frase do evangelho deste último Domingo, quem dizemos nós que Ele era?

Como o Miguel (comentador do primeiro post) muito bem notou, a imagem que temos de Jesus não se esgota na descrição dos milagres de um evangelista. Teríamos de ler outros relatos, dos milagres mas, também, relatos de outras aparições públicas de Cristo, das suas parábolas. Ainda que de relance, fui ler partes do evangelho de S. Lucas, já não na parte que se refere aos milagres, mas na parte que se refere às parábolas ou às intervenções públicas. Adjectivos? Nenhum. As intervenções públicas são secas e determinadas, as parábolas não são mais do que uma forma simples de ensinar mentes simples.

Cristo não veio à Terra para ser simpático e doce e amável. Veio à Terra para romper com um passado, para romper com regras injustas, impiedosas, mesmo desumanas. Veio à Terra para dar voz aos deserdados, aos injustiçados, aos pobres, aos doentes, aos banidos. Veio à Terra para ensinar a fazer por via do coração e não por via das aparências; veio, acima de tudo ensinar um mandamento novo. Como o fez? Com amor firme, desafiante, corajoso, interpelante e confrontativo. Ao fazê-lo - e este aspecto é importante - tocou e deixou-se tocar por aqueles que ninguém queria por perto: os possessos, os doentes, os mortos, em quem nenhum judeu tocava. Fê-lo por doçura, por carinho, por compaixão. 

Não se prega o amor não tendo amor; não se prega a compaixão ou a misericórdia não a tendo dentro de si. Não se prega nada até à morte que não se tenha forte na alma, no cérebro, nas mãos que tocam ou na boca que beija. Jesus era um Homem bom, porque defendia a bondade, pregava a bondade, exercia a bondade. Jesus era tudo aquilo que defendia ou que sabemos que ele fez, porque o tinha dentro de si, caso contrário não teria força para o fazer.

Cristo não é uma construção de nada - dos apóstolos ou da Igreja a caminho. A doçura de Cristo não vem revelada nos evangelhos? Não há amabilidade, ternura ou doçura? Talvez os evangelistas não tivessem o vocabulário suficiente para descrever um Homem assim.  

JdB

    

2 comentários:

Anónimo disse...


ainda bem que o desafiaram ao tema.
as conclusões que formam e marcam surgem.
JdB um zelota esclarecido
Aleluia

Anónimo disse...

Os Evangelhos são quatro textos notáveis sobre Jesus. E não devem a qualidade aos seus autores. Devem-no à pessoa de Jesus.

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