27 janeiro 2017

Caminho marítimo para a Índia (I)


Chegámos à Índia de 4ª para 5ª feira. Da viagem de avião falarei outro dia, que agora o assunto é mais sério. À chegada à embaixada, onde ficaremos, uma simpatia da filha de uma funcionária, dando-nos as boas vindas ao seu País.

O dia de ontem foi dedicado à visita à Cankids, uma organização que se dedica às crianças com cancro. Tinha falado nisso à Poonam Bagai, directora geral da associação, com quem me cruzara em Outubro. Como se celebrava o dia da República, data muito importante no País, decidiram ter a amabilidade de me "eleger" convidado de honra. O alinhamento era este:

Program Schedule
2:30 PM- Welcome Ceremony
2:40 PM- Flag Hoisting & National Anthem
3:00 PM- Welcome speech By Ms. Pranita Singhal (Sr. Manager, Non-Formal Education)
3:10 PM - About India- By a Akash, 10 Year old who is fighting with Osteo Sarcoma.
3:15 PM - Slogans
3:30 PM - Dance Performance By Child with Cancer
3:40 PM - Nukkad / Flashmob Performance By KidsCan Konnect (Survivor Group Cankids)
3:50 PM - About Cankids By Ms. Poonam Bagai (Chairman-Cankkids...Kidscan)
4:00 PM - Few Words by Guest of Honour.
4:15 PM - All attendees sing a song "We are One"
4:20 PM - Thank you Speech & Thank You card By children to Guest of Honour
4:25 PM - High Tea


Visitar uma associação que se dedica às crianças com cancro não é só ver o drama de crianças e pais. É ver, como já tinha visto de alguma forma no Zimbabwe, uma realidade não europeia e, com isso, pormos algumas coisas em perspectiva: a falta de dinheiro para as crianças fazerem tratamentos, a enorme falta de escolaridade, um trânsito caótico, uma miséria muito generalizada, o apoio psicológico de um técnico para dezenas e dezenas de miúdos. Perante isto, as queixas persistentes quanto à ineficiência do nosso sistema nacional de saúde caiem um pouco pela base. Visitar a realidade de Nova Deli é conhecer um mundo que não é o nosso.  Nos dois andares de cima deste edifício onde tudo se passou (uma casa modesta, para os standards portugueses) uma zona de cuidados paliativos. Não me parece que seja preciso dizer mais nada relativamente a esta "cobertura" que, nalguns casos, tem a virtude de estar mais próxima do Céu.


Fora as especificidades indianas, o mundo da Cankids é igual ao mundo da Acreditar - as crianças com o mesmo olhar ingénuo, os sobreviventes carregados de confiança e vontade de ser a prova viva de que se consegue vencer a doença, os pais tristes, esperançados, lutadores até ao fim, os profissionais e voluntários (a organização tem 45 centros espalhados pela Índia, 400 profissionais) com uma dedicação que provoca admiração e espanto. Depois, na tapeçaria que é a oncologia pediátrica, o preenchimento dos espaços onde há vácuo porque ninguém lá vai: uma ajuda espiritual ou financeira, uma exame que se oferece porque demoraria quatro meses, uma prótese que facilita o andar, uma cadeira de rodas, um tapete onde todos se reunem para fazer frente à agressividade dos hospitais e dos tratamentos e da incerteza quanto ao futuro. 


Volto nos próximos dias, com crónicas mais animadas do que esta. Domingo seguimos para Goa.

JdB

1 comentário:

arit netoj disse...

Obrigada João por me desinstalar, com este testemunho sinto-me mais pequena...
Beijinhos e boa viagem

Acerca de mim

Arquivo do blogue