02 janeiro 2017

Textos dos dias que correm

In my end is my beginning 

Home is where one starts from. As we grow older
The world becomes stranger, the pattern more complicated
Of dead and living. Not the intense moment
Isolated, with no before and after,
But a lifetime burning in every moment
And not the lifetime of one man only
But of old stones that cannot be deciphered.
There is a time for the evening under starlight,
A time for the evening under lamplight
(The evening with the photograph album).
Love is most nearly itself
When here and now cease to matter.
Old men ought to be explorers
Here or there does not matter
We must be still and still moving
Into another intensity
For a further union, a deeper communion
Through the dark cold and the empty desolation,
The wave cry, the wind cry, the vast waters
Of the petrel and the porpoise. In my end is my beginning.

T S Eliot , "East Coker", "Four Quartets"

***

«"Os homens avançados em idade devem ser exploradores./ O lugar e a hora não são importantes./ Devemos mover-nos sem cessar para uma outra intensidade,/ para uma união mais completa e uma comunhão mais profunda (...)/ No meu fim está o meu princípio." 

"In my end is my beginning": é o último verso do segundo (1940) dos "Quatro quartetos" desse grande, árduo e fascinante poeta que foi Thomas Stearns Eliot. Era o moto da rainha Maria Stuart da Escócia, e é uma espécie de divisa que podemos assumir para meditar sobre as últimas horas deste ano.

Regressemos aos versos precedentes, dirigidos àqueles que já viveram muitos finais de ano. Não se deve ceder à tentação de que nada mais nos espera, de que já vimos tudo, que tudo já experimentámos suficientemente e, sobretudo, de que só nos espera uma fria lápide funerária sobre a qual estará idealmente gravado "The end".

O poeta, ao contrário, recorda-nos que devemos sempre peregrinar na vida, à procura de um "outro", de "uma união mais completa e de uma comunhão mais profunda". É o que também o islão crente chama ao encontro por excelência com o Criador, que nos aguarda uma vez transposto o umbral da morte.

É igualmente, por excelência, o anúncio cristão que abre uma fenda de luz entre a obscura galeria da agonia: "estaremos sempre com o Senhor", como diz S. Paulo, isto é, no eterno e no infinito do Deus de cujas mãos saímos e cujas mãos, no fim, nos recolherão. Sim, "in my end is my beginning", no meu fim há um novo início.» 

(Card. Gianfranco Ravasi, in "Avvenire")

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