17 fevereiro 2009

História com meio elefante

O elefante ficou a meias.

Só dava despesa.

Assentou: "meio elefante" e bebericou a Macieira.

A memória é assim. Segura pedaços da vida e deixa os outros envelhecer.

Parece tarefa importante. Mas é ao calhas, não se lhe vê razão nas escolhas.

Do circo acabado e da divisão dos trastes, lembrava-se só daquele registo de metade de um elefante e do golo de brandy.

Fresco como se estivesse a acontecer.

E tinha havido tanta outra coisa...

Mas estava a ver o elefante. Enorme e velho como sempre.

Tentou ouvi-lo.

O passado foi-se aproximando já com som. O latido dos caniches primeiro, um relinchar de burro. A arca de fatos de trapezista. Cheiro de pipocas. Uma procissão de caras vagas a aparecer.

Repartiram tudo. E, no fim, o elefante.

Ficou a meias. Só dava despesa.

"- Tratas tu da palha."

Um vestido verde muito claro levemente estampado a côr-de-rosa e os olhos castanhos baixos a seguir a colher pelo café.

Ficou a vê-la devagar.

Não havia mais nada.

"- Trato eu da palha."

JCN

2 comentários:

DaLheGas disse...

a palha... você escreve sem palha JdaConservação

Anónimo disse...

Os burros não relincham, zurram
SdB

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