09 junho 2014

Vai um gin do Peter’s?

Até 15 de Junho, decorre no Parque Eduardo VII a Feira do Livro de Lisboa (1). A vista soberba a partir da esplanada montada no topo do parque, com a faixa de buxo verde seguida do casario branco até ao Tejo, é imperdível, apesar da ventania ao fim da tarde. Mas nada que um bom agasalho não resolva, conseguindo-se o melhor dos dois mundos, para quem goste das rajadas frescas que varrem a cidade, ao poente.


Livros interessantes e apetecíveis há aos milhares, embora nem todos os bons tenham preços razoáveis ou estejam, sequer, na Feira. Ainda assim, há tantas opções capazes, que calha lindamente vir de lá com o stock dos presentes de anos para os meses seguintes. Assim aconteceu com o calhamaço cheio de boas fotografias, das melhores bibliotecas do país (tenda da Cati Centro Atlântico), ou outro sobre cavalos e criadores portugueses (DinaLivro) para um amigo aficionado do tema.

Sem especificar títulos, propriamente, lembraria reflexões lapidares que um Nobel de referência – Albert Einstein (1879-1955) – teve o cuidado de gravar por escrito ou alguém por ele. Essa a vantagem da palavra escrita, que os livros tornam tão acessível e a net ainda mais.
 
As citações que se seguem ultrapassam o universo académico, abrangendo a globalidade da pessoa humana. Impressiona que seja alguém com a autoridade de Einstein a considerar a verdade acima do saber científico, e o carácter acima das faculdades intelectuais do cientista, abalando o estatuto sacrossanto em que a sociedade (sobretudo, a ocidental) insiste em colocar os craques do mundo técnico-científico. Nem sentido de humor lhe falta:    
   «Quem nunca errou, nunca arriscou fazer nada de novo.»
­   «Os intelectuais resolvem problemas; os génios evitam-nos.»
­   «Muita gente diz que é a inteligência que faz um grande cientista. Estão errados: é o carácter!»
­   «Não sou especialmente inteligente nem especialmente dotado. Sou só muitíssimo curioso.»
­   «Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenómeno (…). Quero conhecer o pensamento de Deus; o resto são pormenores.»
­   «A imaginação é mais importante do que o conhecimento.»
­   «O valor do ser humano reside naquilo que dá e não no que é capaz de receber.»
­   «Procure ser uma pessoa de valor, em vez de investir no sucesso. Porque o sucesso é só consequência.»
­   «Os axiomas éticos encontram-se e testam-se do mesmo modo que os axiomas científicos. A verdade é o que suporta o teste da experiência.»
­   «O mais incompreensível (enigmático) no mundo é, precisamente, o facto de ser compreensível. (…) Quando a solução é simples, é Deus a responder.»
­   «Coincidência é a maneira que Deus usa para permanecer anónimo.»
­   «O mistério é a experiência mais bonita que se pode fazer. É ele a fonte de toda a verdadeira arte e ciência.»
­   «Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor, lembre-se: Se escolher o mundo, ficará sem o amor mas, se escolher o amor, com ele conquistará o mundo!»

Deu alertas vários à sua geração, que se mantêm incrivelmente actuais:
   «Uma perfeição de meios e uma confusão de objectivos é o que parece ser o nosso principal problema.»
­   «É urgente que o ideal de sucesso seja substituído pelo ideal de servir.»
­   «O mundo é um lugar perigoso para viver, não tanto por causa daqueles que fazem o mal, mas daqueles que assistem sem intervir.»
­   «Nunca penso no futuro. Ele chega demasiado depressa.»
­   «Trágico na vida é tudo o que vai morrendo em nós, enquanto vivemos.»

E avisou que à bomba atómica seguir-se-ia a bomba tecnológica, de efeitos igualmente devastadores:
   «Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade, substituindo-se ao relacionamento humano. Então o mundo terá uma geração de idiotas.»
­   «Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.»


Legenda da fotografia: «Finalmente a chuva parou e 
os meninos podem juntar-se para brincar lá fora!»
A propósito de crises, observou e recomendou:
­   «Um problema não pode ser resolvido com a mesma abordagem com que foi criado.»
­   «Só os loucos é que, continuando a fazer as mesmas coisas, querem obter resultados diferentes.»
­   «A lógica leva-nos de A para B. A imaginação leva-nos a todo o lado.»
­   «Não podemos querer que as coisas mudem, se continuamos a fazer o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo, sem ter sido superado.
Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções.
A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a dificuldade em encontrar as saídas e as soluções.
Sem crises não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há mérito. É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma carícia. Falar da crise é promovê-la e calar-se na crise é exaltar o conformismo. Em vez disso, devemos antes trabalhar arduamente.
Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para a superar.»

Por último, ilustrou com um exemplo divertido e poético a célebre teoria da relatividade:
­   «Não podemos procurar na gravitação a razão pela qual duas pessoas se apaixonam. Como é que se pode explicar no domínio da física ou da química este tão importante fenómeno do primeiro amor? Ponham a mão num fogão durante um minuto e parecerá uma hora. Sentem-se ao lado daquela rapariga especial uma hora e parecerá um minuto. Isto é relatividade.»

Um cartoon muito eloquente sobre a contradição em que hoje caímos, deslumbrados pela investigação de ponta e escamoteando o principal – o ser humano – circula pela net, indo ao encontro dos avisos de Einstein e expondo a fragilidade de princípios que tomamos por bons:



  MAS QUANDO O TÉCNICO SONHA...


Sem também resvalarmos para o extremo oposto de diabolização redutora e insana das possibilidades extraordinárias da técnica e da ciência, um spot sugestivo da HONDA faz inteiramente jus ao arrojado slogan da marca «The power of dream», enquanto motor do progresso:
 


Acreditando que o sonho dos outros pode enriquecer infinitamente os nossos, haverá entre os milhares de autores disponíveis na Feira do Livro quem nos aproxime do lema inspirador da Honda. Depois de Einstein, talvez o Parque Eduardo VII dê uma boa achega.

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
_____________

 (1) http://feiradolivrodelisboa.pt/.



1 comentário:

Anónimo disse...

“Tudo quanto nas nossas instituições, leis e costumes é moralmente valioso, teve origem nas manifestações do sentimento de justiça de inúmeros indivíduos. As instituições são impotentes no sentido moral, se não forem apoiadas e alimentadas pelo sentido de responsabilidade de indivíduos vivos.
A tentativa de despertar e apoiar o sentido de responsabilidade moral dos indivíduos torna-se pois um serviço importante a prestar à colectividade.” Albert Einstein (1961: 19)

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