10 abril 2011

5º Domingo da Quaresma

Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico.

A leitura deste evangelho remete-me para os meus mortos, os que dobraram a curva da estrada, na expressão do poeta, mas que não saíram, no entanto, do meu coração. De todos, poucos felizmente, me vou recordando.

Nem sempre é fácil interiorizarmos que quem parte não vai para melhor, no sentido de um upgrade hoteleiro, mas para um bem de dimensão superior. Acredito nisso como quem acredita no céu, na inexistência do limbo, no inferno que nós escolhemos, porque ninguém nos manda para lá. É um acto de fé e, seja ele um ponto de partida ou de chegada, o facto é que me permitiu assimilar o que sempre ouvi em casa: na lembrança dos finados rezamos, sobretudo, por quem fica, para que suporte com força a dor de uma saudade, consiga sorrir perante uma ausência sem retorno.

Custa-nos entender o que é isso da eternidade quando, na desordem irremediável das coisas do nosso mundo, desaparece a ternura de um beijo, a sapiência de um conselho, o conforto de um abraço. De que serve a imaterialidade do paraíso ou a certeza do colo de Nossa Senhora quando nos faltam os que deviam partir depois de nós ou que, sendo natural irem antes, o foram cedo de mais? Estou certo de que todos nós trocaríamos de bom grado a nossa espiritualidade mais intensa pelo regresso dos nossos. Infelizmente, não é possível.

Muitos me gabam a sorte de ter fé. Serei seguramente um felizardo perante outros que, em circunstâncias semelhantes, a perderam. Na Sua infinita sabedoria, Deus, não querendo dar-me soluções, beneficiou-me com a satisfação de crer naquilo que não vejo. A fé devolve-me aqueles de quem tenho saudades? De todo. Alivia-me a dor que, aqui e ali, me consome? Nem sempre. O que me dá, então, essa fé que a mim próprio pode surpreender? Sossego, talvez. Paz, seguramente. Aceitação, provavelmente. Revolta, nunca.

A morte para um crente não é nada, é apenas o começo da eternidade. Acreditar nisto, seja de que forma for, abre as portas para um olhar diferente.

Bom Domingo para os que me lêem.

JdB


EVANGELHO – Jo 11,1-45

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
estava doente certo homem, Lázaro de Betânia,
aldeia de Marta e de Maria, sua irmã.
Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume
e Lhe tinha enxugado os pés com os cabelos.
Era seu irmão Lázaro que estava doente.
As irmãs mandaram então dizer a Jesus:
«Senhor, o teu amigo está doente».
Ouvindo isto, Jesus disse:
«Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus,
para que por ela seja glorificado o Filho do homem».
Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.
Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente,
ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava.
Depois disse aos discípulos:
«Vamos de novo para a Judeia».
Os discípulos disseram-Lhe:
«Mestre, ainda há pouco os judeus procuravam apedrejar-Te
e voltas para lá?»
Jesus respondeu:
«Não são doze as horas do dia?
Se alguém andar de dia, não tropeça,
porque vê a luz deste mundo.
Mas se andar de noite, tropeça,
porque não tem luz consigo».
Dito isto, acrescentou:
«O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou despertá-lo».
Disseram então os discípulos:
«Senhor, se dorme, está salvo».
Jesus referia-se à morte de Lázaro,
mas eles entenderam que falava do sono natural.
Disse-lhes então Jesus abertamente:
«Lázaro morreu;
por vossa causa, alegro-Me de não ter estado lá,
para que acrediteis.
Mas, vamos ter com ele».
Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros:
«Vamos nós também, para morrermos com Ele».
Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros.
Muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria,
para lhes apresentar condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar,
Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa.
Marta disse a Jesus:
«Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus,
Deus To concederá».
Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu:
«Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição, no último dia».
Disse-lhe Jesus:
«Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem acredita em Mim,
ainda que tenha morrido, viverá;
E todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá.
Acreditas nisto?»
Disse-Lhe Marta:
«Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo».
Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria,
a quem disse em segredo:
«O Mestre está ali e manda-te chamar».
Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus.
Jesus ainda não tinha chegado à aldeia,
mas estava no lugar em que Marta viera ao seu encontro.
Então os judeus que estavam com Maria em casa
para lhe apresentar condolências,
ao verem-na levantar-se e sair rapidamente,
seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para chorar.
Quando chegou aonde estava Jesus,
Maria, logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe:
«Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido».
Jesus, ao vê-la chorar,
e vendo chorar também os judeus que vinham com ela,
comoveu-Se profundamente e perturbou-Se.
Depois perguntou: «Onde o pusestes?»
Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor».
E Jesus chorou.
Diziam então os judeus:
«Vede como era seu amigo».
Mas alguns deles observaram:
«Então Ele, que abriu os olhos ao cego,
não podia também ter feito que este homem não morresse?»
Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo.
Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada.
Disse Jesus: «Tirai a pedra».
Respondeu Marta, irmã do morto:
«Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias».
Disse Jesus:
«Eu não te disse que, se acreditasses,
verias a glória de Deus?»
Tiraram então a pedra.
Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:
«Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido.
Eu bem sei que sempre Me ouves,
mas falei assim por causa da multidão que nos cerca,
para acreditarem que Tu Me enviaste».
Dito isto, bradou com voz forte:
«Lázaro, sai para fora».
O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras
e o rosto envolvido num sudário.
Disse-lhes Jesus:
«Desligai-o e deixai-o ir».
Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria,
ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.

3 comentários:

arit netoj disse...

Querido João,
Mais uma vez obrigada por me ajudar a dar nome a estados de alma tão difíceis de definir.
A sua clarividência vai melhorando, parece que os seus óculos do coração vão refinando!
Beijinhos

Anónimo disse...

João,
Quando o meu tio Joaquim Pedro, que era frade cartuxo, morreu (em Lisboa), não me esqueço nunca da forma como os outros cartuxos, perfilados ao lado uns dos outros no patio do Mosteiro de Évora, receberam o seu cortejo funebre.
Com alegria sincera e a Paz de que falas, que só uma grande Fé permite.
No entanto, por mais Fé que se tenha, creio que ela é sempre abalada pela morte e pelo seu poder. Jesus chorou por Lazaro.
Estou convicto de que a Fé e o seu aperfeiçoamento são o caminho para conseguirmos aceitar a morte dos que nos são queridos, sobretudo dos que partiram prematuramente, e agradecer e valorizar o tempo que estiveram connosco e o bem que nos fizeram.
Abraço amigo,
fq

Anónimo disse...

Resta-nos a consolação, e essa mantém-me cheia de esperança, de que não só os que partiram estão "melhor" como um dia vou voltar a estar com eles! Vou voltar a vê-los, abraça-los, rir-me com eles e compreender, sobretudo isso, compreender tudo aquilo que não consegui compreender na Terra. Adorei a sua reflexão. Bjs. pcp

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