22 janeiro 2015

As escolhas de gi - o cinema

O Lobo de Wall Street, Martin Scorcese, EUA

Her, Spike Jonze, EUA

A Grande Beleza, Paolo Sorrentino, Itália

Um Quente Agosto, John Wells, EUA

O Congresso, Ari Folman, EUA e outros

O Sonho de Wadjda, Haifa Al-Mansour, Arábia Saudita

Grande Budapeste Hotel, Wes Anderson, EUA

Debaixo da Pele, Jonathan Glazer, Inglaterra

Capital Humano, Paolo Virzì, Itália

Locke, Steven Knight, Inglaterra

A Emigrante, James Gray, EUA

A Vida Invisível, Vitor Gonçalves, Portugal

A Flor do Equinócio, Yasujiro Ozu, Japão

Bom Dia, Yasujiro Ozu, Japão

O Fim do Outono, Yasujiro Ozu, Japão

Ciúme, Philippe Garrel, França

Que Mal Fiz Eu a Deus?, Philippe de Chauveron, França

Magia Ao Luar, Woody Allen, EUA, França

Num Outro Tom, John Carney, EUA

Em Parte Incerta, David Fincher, EUA

Outros Amarão As Coisas Que Eu Amei, Manuel Mozos (documentário), Portugal

Nightcrawler - Repórter Na Noite, Dan Gilroy, EUA

Viva A Liberdade, Roberto Andò, Itália

Cavalo Dinheiro, Pedro Costa, Portugal


Eis um possível percurso pelos filmes estreados em sala, neste Portugal de 2014. Neles, é possível descortinar um bocadinho de todas as tendências (do "mainstream" às margens; da máquina de Hollywood ao puro e radical cinema de autor; da comédia leve (mas não tonta) a autênticos "jogos de massacre"; de cinematografias clássicas a países quase sem tradição). Ou seja: apesar de tudo, um bom sinal que tenhamos a possibilidade, mesmo que com o som ruminante de pipocas, de ver estes filmes, filmes tão diversos, em verdadeiras salas de cinema (como deve ser, arrisco dizer).

Seria possível destacar alguns eixos, tendências, entre este leque de títulos? Seguramente. Fiquemos, contudo, por três ou quatro notas, quanto a nós especialmente significativas:

a) há um cinema novo a surgir, sob o signo da "ovnilogia", no sentido em que alguns destes objectos artísticos nos trocam as coordenadas adquiridas, nos interpelam de forma aguda, nos fazem interrogar sobre o que estamos a ver. São disto exemplo filmes como "Debaixo da Pele" (ficção científica "meets" david lynch meets stanley kubrick "meets" realismo britânico "meets" cinema noir, sob os céus da Escócia), "Locke" (incrível "tour de force", filmado integralmente dentro de um carro em andamento, sem deixar de ser cinema do melhor que temos visto), "Cavalo Dinheiro" (inclassicável, como quase tudo assinado por Pedro Costa) ou ainda os não vistos por nós "E Agora? Conta-me", de Joaquim Pinto e Leonel Pontes e o celebrado "Boyhood", de Richard Linklater.

b) a persistência de cinema popular de qualidade em Itália, nomeadamente através de filmes que misturam, de forma hábil e sedutora, os registos comédia e drama, tendo aquela rara capacidade de nos fazerem rir e reflectir - e, não raro, ao mesmo tempo. Exemplos como "A Grande Beleza", "Capital Humano" e "Viva A Liberdade" têm ainda o mérito de nos fazer sair da sala com a convicção de que saímos melhores pessoas, quase sem darmos por isso. Ou, se calhar, pessoas com uma melhor relação com a sua pessoal circunstância. Ou de como nem sempre a leveza é o pior caminho para se fazerem perguntas importantes.

c) o facto de os melhores filmes absolutos vistos em 2014 terem sido produzidos há muitas décadas atrás, num Japão que se procurava reinventar, após o cataclismo bélico recente. Ozu é sinónimo de cinema maravilhoso e, como dizia alguém, falar sobre certos filmes, falar destes filmes, é como dançar sobre arquitectura. Vejam-no. Vejam-nos.

d) o cinema é ainda e sempre um espaço de ternura. Neste particular, é impossível não destacar "O Sonho de Wadjda", primeiro - repito, primeiro - filme assinado por uma mulher na Arábia Saudita e "Outros Amarão As Coisas Que Eu Amei", carta de amor do discípulo Manuel Mozos ao mestre João Bénard da Costa e carta de amor de João Bénard da Costa ao mundo.. e a nós, espectadores. Visionar estes filmes com os olhos sempre enxutos é tarefa virtualmente impossível. E que bom é ser assim, nestes "tempos detergentes" (Ruy Belo).

Foi assim 2014. E foi também de muitas outras maneiras, sendo esta apenas uma das possíveis formas de para ele olhar, no caso através das subjectivas, porque minhas, lentes da arte dita "a sétima".

gi.

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