06 janeiro 2015

Duas Últimas

Já aqui contei a história, estou certo: várias vezes me cruzei no paredão do Estoril com uma pessoa de quem sou muito amigo. De auscultadores no sítio certo (eu, nos meus ouvidos), mantinha este diálogo:

- O que estás a ouvir?
- Fado.
- Estás triste?

A primeira nota é de espanto. Apesar de na generalidade dos casos o fado ser considerado uma música triste, onde está o racional da pergunta? Estou triste porque oiço fado ou oiço fado porque estou triste? Sempre achei que a lógica da dúvida (toda apoiada na enorme amizade que esta pessoa me tinha) assentava na primeira hipótese - tristeza gera tristeza.

Anteontem, parece-me, o jornal Observador publicava uma notícia interessante, subordinada ao título: A música triste deixa as pessoas mais felizes. Sabe porquê?  Aparentemente, um estudo de uma universidade alemã chegou à conclusão que as canções tristes têm um efeito positivo no humor e na sensação de bem-estar de pessoas que passam por momentos de alguma infelicidade.

Percebi então que a pergunta que a minha amiga proferia, toda feita de ternura e interesse, se ancorava numa visão premonitória e percursora que realçava a segunda hipótese: oiço fado porque estou triste. Isto é, a música triste tinha um efeito positivo numa fase bem menos feliz da minha vida. Uma vez que sou um feroz adepto de música triste, temo levar um excesso de vitamina de bem-estar que me deixe contente e folião o que, a bem dizer, me é profundamente detestável...

Deixo-vos com algo triste (que podem e devem ouvir alto, se bem que muita gente gritasse "deprimente!!!!"). Porquê? Em Fevereiro tenho de pagar o IVA e assim vou aforrando boa-disposição...

JdB
    

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