16 setembro 2012

24º Domingo do Tempo Comum


Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico.

Já contei esta história mais de uma vez. Volto a fazê-lo, não porque me faleça a imaginação nestes dias calorentos de Madrid, mas porque recordá-la é colocar adiante dos meus olhos o que, num determinado ponto de vista, é o mais importante. Aquando da morte do Álvaro Cunhal, um militante comunista escreveu no livro de condolências: conhecer-te mudou a minha vida, camarada. Independentemente de quem a proferiu e de quem era o camarada, não mais esqueci esta história. Um dia, ainda eu fazia parte das equipas de Nossa Senhora, fizemos este exercício: o que diríamos a Cristo se nos cruzássemos com ele na rua? A minha resposta foi simples: conhecer-Te mudou a minha vida.

Não tenho visões, não levito, não penso que todos tenhamos uma cruz para carregar, não vivo apavorado com o fogo eterno do inferno, não me confesso todas as semanas, não profiro frases inflamadas carregadas de beatério vazio, não cito Deus e Nossa Senhora com os olhos em alvo. Sou uma católico normal, que falha, que tenta ser melhor, que acredita no desafio quotidiano da santidade. Tenho a minha dose de lutos feitos, outra, seguramente menor, de lutos por fazer. Do ponto de vista positivo, naquilo que sou ou em que me tornei, na minha resposta aos dramas ou aos desafios, na forma como olho para o mundo em meu redor, em tudo isto, repito, a minha Fé está presente e tem um papel determinante. Muitas outras coisas ajudaram, nomeadamente os Amigos com quem me cruzei. Sem lhes tirar a importância - e cada um deles sabe isso - questiono-me onde estaria sem a Fé, mesmo que, aqui e ali, alguém tivesse mencionado o meu exagero. Sem a minha espiritualidade cristã (e os Amigos, obviamente...) não teria encontrado sentido para um sofrimento específico, teria ficado no rancor ao não encontrar sentido para outro sofrimento específico.    

Ser-se santo do quotidiano, dizia no outro dia a alguém, tem a sua dose de egoísmo, porque nos torna a vida melhor. Zangamo-nos menos, temos menos apetência para o remorso ou para o rancor, somos menos orgulhosos, mais compreensivos, mais tolerantes, com um olhar mais consistente sobre o drama alheio, com mais espírito de serviço. Recordo a frase de Sophia de Mello Breyner no seu Retrato de Mónica:

"Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias".

Conhecer-te mudou a minha vida.

Bom Domingo para todos,

JdB


***   

EVANGELHO – Mc 8,27-35
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus partiu com os seus discípulos
para as povoações de Cesareia de Filipe.
No caminho, fez-lhes esta pergunta:
«Quem dizem os homens que Eu sou?»
Eles responderam:
«Uns dizem João Baptista; outros, Elias;
e outros, um dos profetas».
Jesus então perguntou-lhes:
«E vós, quem dizeis que Eu sou?»
Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias».
Ordenou-lhes então severamente
que não falassem d’Ele a ninguém.
Depois, começou a ensinar-lhes
que o Filho do homem tinha de sofrer muito,
de ser rejeitado pelos anciãos,
pelos sumos sacerdotes e pelos escribas;
de ser morto e ressuscitar três dias depois.
E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas.
Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O.
Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos,
repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás,
porque não compreendes as coisas de Deus,
mas só as dos homens».
E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes:
«Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me.
Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á;
mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho,
salvá-la-á».

4 comentários:

Anónimo disse...

Gostei imenso da simplicidade e claridade da sua análise. Obrigada. pcp

Anónimo disse...

Excelente comentário!
Obg
fq

aritnetoj disse...

Muito boa esta meditação, gostei imenso!
Beijinhos

Maf disse...

concordo plenamente; a verdadeira santidade é aquela que nos advém do dia-a-dia, das nossas vidas repetitivas e rotineiras e não de um qualquer acontecimento pontual e heróico.
Beijinhos
Maf

Acerca de mim

Arquivo do blogue