25 setembro 2012

Duas últimas (ou moleskine espanhol)

Aquando da minha última estadia em Espanha, há duas semanas, fomos ao Vale dos Caídos, um monumento imponente, esmagador, todo em pedra, onde se sente o peso da guerra civil espanhola. Construído com o trabalho de 20.000 prisioneiros vencidos, ali estão sepultados Francisco Franco e José António Primo de Rivera, fundador da falange espanhola, condenado e fuzilado em 1936, aos 33 anos de idade. Duas portas laterais, já dentro da igreja, dão acesso a duas capelas onde estão enterrados alguns dos que morreram por Deus e pela Pátria.  Todos terão  morrido pela Espanha (ou Espanhas, na expressão de um catalão, feirante de jóias, com quem travei conhecimento), muitos morreram em nome do Criador.

Houve quem quisesse deitar o monumento abaixo, dessacralizá-lo, proibir missas, retirar o corpo de Franco, sei lá mais o quê. Como diria um padre que me dá o gosto da amizade, ali têm de rezar-se muitas missas para limpar um pouco daquele espírito. Numa visão mais ecuménica, a nossa amiga Luiza Azancot (com quem falei ontem sobre o tema) acrescentava que talvez uns indianos, budistas e outras religiões ajudassem a alguma espiritualidade.

Confesso que não tinha expectativas sobre o Vale dos Caídos - apenas curiosidade. Mas, reconheço, fiquei abismado. Uma estatuária forte e simbólica, tapeçarias pesadas e graves, um certo despojamento decorativo que impressiona. Percebe-se que o monumento provoque sentimentos antagónicos, conflituantes, difíceis de aceitar por quem está (estava) do lado que perdeu a guerra.

(Ainda na conversa com a LA abordámos o tema da impressão que nos provocam os sítios. Ela mencionou, entre outros, as pirâmides, que a mim, talvez por estar à espera de muito, impressionaram pouco. Mas fiquei boquiaberto com a beleza do Cabo Girão (Madeira) que nos mostra uma vastidão de espaço que sufoca. Enfim, deambulações para explorar noutra altura.)


   
(As fotografias, tiradas com um iphone, não dão a verdadeira imagem da imponência do monumento).

Deixo-vos com música clássica espanhola. 






JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

João,
Não conheço o Vale dos Caídos, mas tenho pena. Gosto da beleza sóbria e imponente!
Magnifica a interpretação da 2ª música.
Abraço,
fq

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