23 dezembro 2010

Deixa-me rir...

Sempre gostei do Kris Kristofferson. Escritor, actor, cantor e intérprete de vários géneros musicais (folk, rock, country), fui seguindo, ainda que muito esporadicamente, a carreira deste artista relativamente desconhecido do público português. Para além de sempre o ter achado bem giro e de gostar do seu sorriso franco e aberto, lembro-me do seu romance com a Barbara Streisand e de ter sido casado com a Rita Coolidge, uma cantora “do meu tempo” (muito famosa na América, aqui francamente menos). Hoje em dia já não é (nada) novo – nasceu em 36 – mas teve uma vida incrivelmente cheia: desportista nato, 8 filhos, 3 mulheres, uma passagem honrosa pela vida militar, intelectual (tem um degree em Literatura pela Universidade de Oxford), dado às drogas e aos excessos durante largos anos, foi autor de canções de grande sucesso, privou com n artistas do seu tempo, ganhou Emmys e Grammys … enfim, uma vida rica de conteúdos. (e se dúvidas houvesse quanto a isso, reparem na letra da canção abaixo).
Desta vez, procurando músicas alusivas ao Natal, encontrei esta balada country que achei particularmente bonita e comovente. Da sua autoria (1972), foi reinterpretada mais tarde por Johnny Cash, artista de quem o PO já falou há muitos meses atrás.
Ora ouçam:



why me lord?
what have i ever done,
to deserve even one,
of the pleasure i've known,
tell me lord,
what did i ever do,
that was worth lovin' you,
for the kindness you've shown,
lord help me Jesus,
i've wasted it so help me Jesus,
i know what i am,
but now that i know,
that i needed you so help me Jesus,
my souls in your hand,
try me lord,
if you think there's a way,
i can try to repay,
all i've takin' from you,
maybe lord,
i can show someone else,
what i've been through myself,
on my way back to you,
Jesus, my soul's in your hands


À primeira vista, esta canção não tem nada a ver com o Natal. E, no entanto, tem. Tem porque se não fosse o nascimento de Jesus, dessa figura divina e humana que veio ensinar a Paz e dar um sentido mais profundo à existência humana, nem o Kris Kristofferson (nem ninguém) poderia ter escrito uma canção tão doce, tão humilde, tão cheia de gratidão e abandono absoluto (curiosamente, fez-me lembrar os escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus!). Não sei, talvez seja meu problema, mas não estou a ver nenhum budista, hindu ou muçulmano a escrever uma canção tão “doce”! E tem a ver com o Natal por uma segunda razão: é que todo o nascimento (e o Natal é O nascimento por excelência) é sinónimo de renovação e de abertura ao futuro. Que, por definição, encerra todas as potencialidades. O futuro é fresco, é puro, é uma tela branca onde podemos pintar o que quisermos. Ainda que as experiências passadas nos tenham tingido e quebrado. O Natal representa a possibilidade de nos renovarmos e de podermos reescrever a nossa vida interior e história pessoal. Talvez não com a alegria espontânea das crianças, com a esperança da juventude, com o entusiasmo dos 20’s, mas com a certeza das conquistas interiores: que o Amor não é uma abstracção e que “my (our) soul's in your hands”.

Um Santo Natal para todos.

pcp

5 comentários:

Anónimo disse...

Gosto sempre de a ler, PCP.
Santo Natal para si.
fq

Anónimo disse...

Muito obrigada, fq. O mesmo para si. pcp

Philip disse...

Hi pcp, sorry just a quick acknowledgement as i'm preparing the stable for unexpected guests - a heavily pregnant woman and her husband... nice lyric, i didn't know Kristofferson had an overtly spiritual side. Did you realise you posted another KK composition a while back?: Perry Como's For The Good Times. My favourite of his songs is Help Me Make It Through The Night, sung by the incomparable Gladys Knight... bjs, po

Anónimo disse...

Hi P, thanks for your comment ... and Merry Christmas! Again! Check listening to Help me make it through the night sang by KK and Rita Coolidge. http://www.youtube.com/watch?v=45-6duFvfuI
Bjs and see you soon. pcp

Anónimo disse...

Santo Natal tb a ti, pcp, com este post tão completo de música com "sabor" a Natal. É uma época do ano lindíssima, de luz dourada, como dizia a Maf no seu conto giríssimo. Bjs, MZ

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