(fotografia retirada da edição online do jornal i)
D. Maria Adelaide de Bragança, princesa de Portugal e última neta viva do rei D. Miguel, faz 100 anos e vai ser condecorada pelo Presidente da República. O monárquico João Távora faz o retrato na edição de hoje do jornal i.
Agradeço ao fq o envio do link, ele que vem de uma família que se cruzou muito proximamente com a infanta. Sortilégios de quem trata Murfacem por tu...
Das memórias que guardo da infância e da adolescência
(tempos já algo longínquos!), uma das mais vivas e marcantes tem a ver com as
estadias no Douro, numa quinta dos meus avós maternos situada perto de uma
povoação chamada Gouvinhas, na margem direita do rio, onde em regra passávamos
anualmente a Páscoa e boa parte do mês de Setembro.
Eram tempos em que para ir de Lisboa até lá se demorava
um dia inteiro, isto se o carro ou as estradas não pregassem uma partida, o que
era frequente, ou em que à noite se utilizavam candeeiros de petróleo, porque
não havia luz eléctrica. Sendo uma quinta situada num vale, entre montes
elevados, lembro-me especialmente da violência das trovoadas, que punham a
minha avó a rezar a Sta. Bárbara horas a fio, das trindades anunciadas pelo
sino da Igreja todos os dias ao final da tarde, que ecoavam lentamente pelo
vale e das sessões de leitura com o meu avô, assanhado queirosiano, que me
deram a conhecer o grande escritor.
A quinta acabou infelizmente por ser vendida, ou talvez vendada, numa daquelas precipitações de
que nos acabamos por arrepender e que depois nos atormentam pela vida fora,
porque o mal já foi feito e dificilmente se pode reparar, mas as lembranças
permaneceram.
Acompanhávamos as vindimas, quando eram em Setembro,
porque às vezes entravam pelo Outubro dentro, com grande excitação. Sobretudo nas
velozes caminhadas que os homens das rogas faziam pelas íngremes vinhas abaixo
até aos lagares, em fila indiana, com os cestos de 50 kg de uvas às costas, sempre
ao som da gaita de beiços tocada pelo que vinha à frente, que marcava o ritmo.
Nós vínhamos atrás, sem nada a pesar nos costados, e mesmo assim muito
dificilmente os acompanhávamos, em terrenos com inclinações brutais propensos a
vertigens a sério. As noites em que se pisavam as uvas nos lagares, ao som da
concertina, também eram um acontecimento.
Em homenagem a esses tocadores e a esses tempos, escolhi
três músicas, de um britânico, um norte-americano e um canadiano, em que a
harmónica/gaita de beiços desempenha um papel central. Os dois primeiros em
gravações já com largos anitos, o último num vídeo bastante mais recente.
Não termino sem um parêntesis: para uma aproximação ao
Douro, Miguel Torga, porque ninguém como ele, homem dali, descreveu melhor
aquelas terras, paisagens, gentes e costumes.
É revigorante lembrar a
história da Nobel da Paz birmanesa (em 1991), Aung San Suu Kyi, com uma vida
riquíssima, misto de combatividade, solidariedade, idealismo, eivados de
bondade, na senda dos ensinamentos de Gandhi. O filme «THE LADY -UM CORAÇÃO
DIVIDIDO»(1)mostra o contributo heróico de Suu em favor da liberdade
humana. Comprova o espaço de liberdade individual, mesmo nas situações mais
críticas, além de mostrar quanto as pessoas podem fazer a diferença, suplantando,
no médio prazo (no curto prazo, o mal costuma sobrepor-se), todas as adversidades.
E esse é o ponto: o timing mais
longínquo de realização das lutas superiores da humanidade. Daí a vantagem (mas
não garantia de sucesso, ainda em vida) dos combatentes que acreditam para lá
do visível, que esperam contra toda a evidência.
«You can’t separate peace from freedom because no one can be at peace
unless he has his freedom» (Malcolm X,
1965)
Há uns anos, um artigo da
Time noticiava uma nova teoria em
voga entre inúmeros médicos dos EUA, professando a tese de que os doentes que
rezavam, alicerçados numa fé convicta, tinham maior probabilidade de cura.
Embora a tese sobre o poder curativo da oração extrapole o campo da ciência, entende-se
a raiz de tal ideia, sugerida pela vida de personalidades marcantes na História,
como o Mahatma, fonte de inspiração para Suu.
Voltando ao filme: a grandeza
humana de muitas personagens – em especial da Nobel e do seu marido, o
catedrático britânico Michael Aris – corresponde q.b. ao que rezam as crónicas.
Foram precisos vários anos até o argumento ficar completo e incluir o testemunho directo de Suu e de outros
opositores da junta militar birmanesa, com manifesto risco de vida.
A sua defesa da
democracia e dos direitos humanos, na Birmânia, constituiu um desafio aberto aos
líderes corruptos, cruéis e sem escrúpulos, que se arrastavam no poder, indiferentes
aos resultados eleitorais (vitoriosos para Suu) ou aos milhares de protestos de
todo o mundo, denunciando o regime de terror instaurado naquele lindo país,
logo após o assassinato do pai da Nobel.
Os muitos epítetos por
que se celebrizou – Mandela do Extremo
Oriente, Orquídea de Aço, Dama de Ferro da Ásia– dificilmente fazem
jus à generosidade da sua oposição contra uma das piores tiranias da
actualidade, que durante décadas manteve a Birmânia (Myannmar) a ferro-e-fogo. Acredita-se
que em Março de 2011, o novo Presidente terá iniciado um caminho de
democratização e libertado Suu, pondo fim ao calvário de quinze anos de prisão
domiciliária.
Sobretudo por mérito do
marido, o combate da Nobel birmanesa internacionalizou-se num abrir e fechar de
olhos, conseguindo cobertura mediática regular. Resultou também numa profusão
de condecorações de prestígio, como o Prémio Sakharov para a Liberdade de
Pensamento (1990), a Medalha Wallenberg (Suécia, 2011), os mais altos galardões
dos Governos da Índia, do Canadá, da Venezuela, etc., eleita Personalidade do
Ano pela revista Time nos anos 90, além de muitos outros reconhecimentos
internacionais.
A figura franzina e
elegante desta bonita oriental, filha de um general mítico, selvaticamente morto
quando Suu tinha 3 anos, é bem expressiva do seu carisma invulgar, expoente da souplesse das asiáticas. Não estranhamos
que Suu tenha estranhado os elogios rasgados de toda a imprensa internacional,
convertendo-a em lenda viva. Simplesmente, poucas coisas podiam ser mais
avessas à sua sensibilidade, cravejada de subtileza e de humildade, do que o culto de personalidade, tão do agrado dos
media populistas. Nada daquilo era compatível com a lucidez firme que o seu
combate exigia. Quando o marido lhe deu a notícia dos louvores escarrapachados
nas primeiras páginas dos jornais, Suu desfiou logo o rol dos seus defeitos, a
marcar bem quanto mantinha a consciência dos limites e até dos erros.
É sublime o episódio de
bravura de Suu a avançar desarmada para um pelotão de fuzileiros, com as espingardas
apontadas a ela, incrivelmente surda às instruções de um general que a mandou parar,
sob ameaça de morte. Mas vociferou em vão, porque a silhueta suave da birmanesa
foi deslizando, impassível, ao encontro das armas. Quase irreal, na sua serenidade
diáfana. Em todos os outros, a começar pelo general, a tensão era crescente. Enquanto
a contagem era decrescente, com ordem para Suu estacar. Fim da contagem e
contra-ordem de outro general para ninguém se atrever a disparar. Entretanto, a
birmanesa já tinha percorrido todas as fileiras do regimento, com a segurança
inusitada de um fantasma! A história correu como um rastilho pela Birmânia e
pelo mundo, atestandoa autoridade e o estatuto de combatente dos valores mais
elevados. Estava tão acima do medo
comum, que já nada a poderia deter!
Manteve-se
corajosamente fiel às suas convicções: «I will never change
for a violent strategy.»
Na película, a
cumplicidade muito amiga entre a Nobel e o marido confirmam-nos o potencial incrível
do amor humano. A referência ao coração dividido, no título, alude à
impossibilidade de acompanhar Mikey, nos últimos dias de vida, hospitalizado
com cancro (1999). Se saísse, a junta militar nunca mais a deixaria regressar à
terra pátria, onde a luta pela liberdade lhe parecia uma causa maior. Aliás, Mikey
implorou-lhe que ficasse em Rangoon. Percebem-se as palavras com que
a actriz principal sintetiza o filme: «‘an
incredible love story that has political turmoil within’," referring
to Suu Kyi’s relationship with her husband, Briton Michael Aris.»(23.Maio.2011). De facto, é uma história
de amor, que parte dos mais próximos para alcançar toda a humanidade.
A intensa ligação aos filhos,
apesar e para lá da distância geográfica, mostram a profundidade dos laços
afectivos no seio de uma família multi-étnica. Acima de tudo, a história da heroína birmanesa devolve-nos a confiança na
humanidade e no futuro, porque assume, com muito
galhardia, a notável possibilidade de o bem vencer. É mesmo um filme vitamínico,
apetecível para o primeiro mês do ano.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
Jesus chegou
a Cafarnaúm e quando no sábado seguinte entrou na sinagoga começou a ensinar.
E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem
autoridade e não como os doutores da Lei.
Na sinagoga, no meio deles, encontrava-se um homem com um espírito maligno, que
começou a gritar:
«Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem
Tu és: o Santo de Deus.»
Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.»
Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um
grande grito.
Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um
novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos
malignos e eles obedecem-lhe!»
E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
eu ligava então o computador e repetia desoladamente o gesto de sempre, procurando no génio alheio uma ponta de redenção para o meu esforçado poema. a primavera anunciava-se lá fora, contornando esquiva a esguia janela, mas os meus dedos não sabiam, nesses dias, procurar o pólen improvável que sempre nasce do esforço mais devotado, quase a possível terminação para quem sempre sonhou com a taluda (o contrário, infelizmente, seria todo um outro poema, com pouca cor, algum choro e decerto ranger de dentes). por entre erros de métrica e formalismos inestéticos, os dedos martelavam impiedosamente esse betão que podem ser as letras, em dias maus, quando revelam todo o seu mau fígado e pior coração. coisas da ordem dos factos, tentava convencer-me, dedilhando o teclado e varrendo, nunca é demais dizer, o tal génio alheio, os tais que têm coisas para escrever vindas do turbilhão, do desalinho da alma, do escuro que brilha. felizes esses infelizes, escrevem coisas com estética e preceito. pior seria, tu como eu sabes bem, escrever sempre em esforço, ter algures no deserto interior um oásis em potência, mas nem arte nem ciência para o fazer florir, pelo menos em tempo útil. por isso te chamas inverno, mesmo gostando de verão, mesmo se tantos encontram o teu lugar muito mais nos outonais campos da primavera (ou será ao contrário..?). coisas da ordem dos factos, incontornáveis tal como escrever esta palavra - ia dizer: nestes tempos. melhor seria lembrar o ruy belo e a sua famosa e solene declaração, cheia de pujante atitude, em vez da pusilânime contenção que a vida moderna aconselha. sim, rui, também eu 'odeio este tempo detergente'. ironia biográfica, se porventura conhecessem quem por detrás deste matraquear esforçado displicentemente se esconde. ironia? só da mais fina. que o tempo não está para cedências ao deus menor da velocidade sem sal. e assim nos quedamos, em castelhano e tudo, que o tempo escasseia e o poema sobeja. devaneios à sexta quem os não tem? fica assim manco o poema, à falta de um encerramento condigno. como a vida que teima em equilibrar-se em menos pernas do que as que te são devidas pelo grande vendedor de ilusões. vende detergente, velocidade, ferro em brasa, coisas sem préstimo ou essencialidade. resta a escrita, o esforço, o resto que a ninguém aproveita, velharias civilizacionais. resta uma casa, um rosto, a distância murada para a fealdade, um nome, uma ideia louca. resta-te a liberdade.
Do nosso saudoso amigo gi. Texto tirado daqui, cuja reprodução foi devidamente autorizada.
Caros audiophiles, from a new artist for 2012 to a global star. Bryan Ferry continues to shine after 40 years performing solo and as singer/leader of Roxy Music. Maybe his new 29 year-old wife keeps him young.
I saw him in solo concert for the first time just before Christmas. He still has the smooth masculine style which made him desired by women and hated/admired by men, and he still surrounds himself with impeccable musicians and sexy dancers. This is just for spectacle because actually in conversation he is softly spoken and modestly unassuming.
Here are three songs from his solo career.
Slave To Love
Let's Stick Together
Bryan Ferry has always been a fine interpreter of other artists' songs, notably Bob Dylan. Here is a cover version from his first solo album, a timeless standard from the 1930s, which has always been a favourite of mine, and which exemplifies his sense of style and romanticism:
These Foolish Things
Oh will you never let me be? Oh will you never set me free? The ties that bound us are still around us There's no escape that I can see And still those little things remain That bring me happiness or pain A cigarette that bears a lipstick's traces An airline ticket to romantic places And still my heart has wings These foolish things Remind me of you A tinkling piano in the next apartment Those stumbling words that told you what my heart meant A fairground's painted swings These foolish things Remind me of you You came, you saw, you conquered me When you did that to me, I somehow knew that this had to be The winds of March that make my heart a dancer A telephone that rings - but who's to answer? Oh, how the ghost of you clings These foolish things Remind me of you Gardenia perfume ling'ring on a pillow Wild strawb'ries only seven francs a kilo And still my heart has wings These foolish things Remind me of you The park at evening when the bell has sounded The Isle de France with all the girls around it The beauty that is Spring These foolish things Remind me of you I know that this was bound to be These things have haunted me For you've entirely enchanted me The sigh of midnight trains in empty stations Silk stockings thrown aside, dance invitations Oh, how the ghost of you clings These foolish things Remind me of you First daffodils and long excited cables And candlelight on little corner tables And still my heart has wings These foolish things Remind me of you The smile of Garbo and the scent of roses The waiters whistling as the last bar closes The song that Crosby sings These foolish things Remind me of you How strange, how sweet to find you still These things are dear to me That seem to bring you so near to me The scent of smould'ring leaves, the wail of steamers Two lovers on the street who walk like dreamers Oh, how the ghost of you clings These foolish things Remind me of you, just you
O que a Sabedoria propõe é de facto a Fraternidade. Sendo ela revelação da unidade na totalidade, mostra os caminhos por meio dos quais se realiza a unidade da família humana: a partilha e comunhão dos bens da vida e da terra; a solidariedade que faz a cada um sentir-se, e ser, de facto, responsável por todos; a ousadia de interceder, na oração, por todos os que necessitam de ajuda, e de pedir perdão por aqueles que não sabem o que fazem; a convicção íntima de que cada homem representa a humanidade inteira; a partilha dos bens com os necessitados. A Sabedoria mostra também que cada gesto de solidariedade, cada ato de amor, cada renúncia em favor de alguém, é realmente mais um passo que nos aproxima da Fraternidade. A Sabedoria faz-nos acreditar que essas pequenas ou grandes realizações são sinal de que a Humanidade pode continuar a esperar a plena realização da fraternidade universal.
(...)
José Mattoso Historiador 7ª Jornada da Pastoral da Cultura, Fátima, 17.6.2011
Caravaggio (1600-1601); Oil on canvas, cm 230 x 165; Cerasi Chapel, Santa Maria del Popola, Rome
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita. O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil. Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor.