O raciocínio é demasiado ligeiro para ser tomado excessivamente à séria, mas não deixa de ser curioso: num site com inúmeras informações sobre fado - letras, músicas, repertórios, etc., há 100 fados que têm saudade no título, 51 fados que têm triste e 2 que têm alegria. O fado é nosso, e é isto que somos...
"Francisco Radamanto é o nome pelo qual ficou conhecido Francisco Duarte Ferreira [1908 - 1972], talentoso poeta popular, jornalista e, especialmente, temível polemista em defesa do fado. Teve na mocidade uma vida atribulada, com passagem, até, pelas cadeias de Monsanto e do Limoeiro, facto que nunca ocultou, pois nos versos que enviava para a Guitarra de Portugal, jornal em que sempre colaborou, indicava constantemente o estabelecimento prisional onde se encontrava." (Poetas Populares do Fado Tradicional, Daniel Gouveia e Francisco Mendes, 2014).
JdB
***
Orfãzita
Ficara triste a
orfãzita
Triste sete anos de
vida
Tão airosa e tão
bonita
Toda de luto vestida
Mas disse-lhe um dia
o pai
Vives aqui tão
sózinha
E o teu paizinho vai
Dar-te uma outra
mãezinha
Outra mãe não pode
ser
Nós temos uma só mãe
Morreu e se outra
vier
Eu quero morrer
também
Um dia, a outra
chegou
Toda a gente em festa
linda
Só a pequena chorou
Sózinha, mais orfã
ainda
E triste, devagarinho
Sem dizer nada a
ninguém
Foi procurar um
cantinho
Na sepultura da mãe
***
Praga
Por ter no peito uma chaga
E na alma a cicatriz
Dum amor desventurado
Vou-te rogar uma
praga
Deus te faça tão
feliz
Quanto eu sou de
desgraçado
Foste má, foste ruim
Não se perdoa,
portanto
Tão ingrato proceder
Vocês são todas assim
Desprezam quem lhes quer tanto
Amam quem as faz
sofrer
Mas se alguma vez na
vida
Te sentires arrependida
Entregue à tua
saudade
Vem, que eu faço o
que puder
Não por amor, podes
crer
Apenas por caridade.
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